O desânimo e a deserção estão a começar a afectar a organização terrorista Estado Islâmico, testando a coesão da mais poderosa força jihadista do mundo, enquanto retardam sua força militar.
Activistas no leste da Síria, controlados pelo Estado Islâmico (EI), dizem que, à medida que o progresso militar desacelera e o foco passa a ser governar a região sob seu controlo, cresce a frustração entre os militantes, considerados a força de combate mais disciplinada e eficaz na guerra civil.
A meio do ano, o grupo avançou sobre o Iraque ocidental e a Síria oriental, numa ofensiva que chocou o mundo.
A sua acção militar, no entanto, esgotou as áreas sunitas muçulmanas descontentes, facilmente domináveis.
Paralelamente, a coligação internacional dos EUA e de forças locais, com ataques aéreos e por terra, começou a retardar a expansão do Estado Islâmico.
A semana passada, os EUA anunciaram que dois líderes do EI foram mortos em ataques aéreos, informação que o grupo não confirma.
Na mesma semana, combatentes curdos interromperam o cerco de cinco meses do EI ao monte Sinjar, no Iraque.
Era uma vez uma aventura
“A moral das tropas não está a cair – já bateu no chão“, diz à RVR um activista da província de Deir Ezzor, na Síria orienta.
“Os militantes locais sentem que fazem a maior parte do trabalho, e os combatentes estrangeiros, que pensavam que vinham para uma aventura, agora estão simplesmente exaustos“, acrescenta.
No dia 20, o Estado Islâmico executou cem dos seus próprios combatentes estrangeiros, que tentavam fugir da cidade de Raqqa, no norte da Síria.
“Após a queda de Mossul, em junho, o EI apresentava-se como uma força incontrolável e vendia uma sensação de aventura”, diz um oficial americano, citado pela RVR, “mas a dinâmica mudou desde que os ataques aéreos começaram, em agosto”.
Segundo o oficial, os ataques aéreos contribuíram para travar o avanço do EI, o que ajudou a conter o fluxo de recrutas estrangeiros.
Mas, adverte o oficial, “a mudança de humor não afectou os radicais“.
Combater ou governar
O analista Torbjorn Soltvedt, da consultoria Verisk Maplecroft, no Reino Unido, diz que a transformação dos próprios combatentes, quando passam de um exército móvel para uma força de governo, abala a moral.
“Antes eles conquistavam território, forçavam exércitos no Iraque e na Síria a retirar”, explica Soltvedt.
“Agora, eles são basicamente uma força de ocupação a tentar governar.”
“A situação não é boa”, resmunga, sob anonimato, um militante do EI, que confessa que os combatentes estão descontentes com os seus líderes.
“Não podemos falar, e somos forçados a fazer coisas inúteis”, resumiu.
ZAP / RVR