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Depois de perder tudo, uma pequena ilha nas Caraíbas vai ser à prova de furacões

Plano sem precedentes quer fazer do país o primeiro resistente ao clima do mundo após a catástrofe que provocou danos no valor equivalente a 226% do PIB nacional. Conheça a estratégia de resiliência, em quatro passos.

Em setembro de 2017, o Furacão Maria, de categoria 5, atingiu a humilde ilha de Dominica, provocando destruição generalizada.

Os habitantes da ilha das Antilhas Menores testemunharam ventos máximos de até 260 quilómetros por hora e “perderam tudo o que podiam ter perdido” após a passagem da tempestade, dizia ao mundo o primeiro-ministro daquela ilha localizada no oriente das Caraíbas, Roosevelt Skerrit.

Os ventos arrancaram os telhados de quase todas as pessoas com quem falei ou estive em contacto”, escreveu Skerrit na sua página de Facebook, lançando um apelo a “todo o tipo de ajuda”.

A catástrofe danificou 98% dos edifícios da ilha e causou danos no valor de 1,2 mil milhões de dólares (quase 1,1 mil milhões de euros); o equivalente a 226% do PIB do país.

Ainda mais pequena do que a ilha da Madeira, Dominica encontrava-se vulnerável perante o seu terreno montanhoso, suscetível a deslizamentos de terra e inundações.

Em resposta à devastação, o Primeiro-Ministro da ilha propôs um plano ambicioso e sem precedentes: transformar a nação no primeiro país resistente ao clima do mundo.

O plano, em quatro passos

A ideia de Skerrit exigiu a criação de uma estratégia abrangente do zero, explica no The Conversation a investigadora de resiliência climática Emily Wilkinson, que atua como conselheira da agência de resiliência climática do país desde 2019.

Especializada em pequenos estados insulares em desenvolvimento, Wilkinson trabalha para ajudar a Dominica a reerguer-se de forma mais forte e sustentável em quatro passos-chave.

1. Colaboração intersetorial

A construção de resiliência na Dominica envolve vários setores, desde a agricultura, habitação e infraestruturas, e foca-se particularmente nos 300 rios e pontes da ilha.

O país quer agora que todas as comunidades sejam auto-suficientes durante 14 dias após um desastre e que 90% das habitações cumpram os códigos de construção resilientes até 2030.

2. Utilização de recursos naturais

A vasta vegetação natural e os recifes de coral da Dominica atuam como barreiras contra o clima extremo, explica a especialista.

A destruição desta vegetação, às mãos dos colonizadores britânicos e da sua cultura intensiva e química da banana, agravou os efeitos da catástrofe ambiental que varreu o país em 2017.

O plano de resiliência envolve aumentar as áreas de floresta protegida, manter os recifes de coral e adotar práticas sustentáveis na pesca e agricultura.

Além disso, a ilha caminha para a neutralidade de carbono através da produção de energia renovável doméstica. Uma central geotérmica vai produzir energia suficiente para exportar para regiões vizinhas como Guadalupe e Martinica.

3. Beber da história e prática indígena

A história da economia de plantações da ilha e as práticas agrícolas da comunidade indígena Kalinago — a maior da Dominica — terão um papel na estratégia de resiliência.

Imposta pelo governo britânico durante a colonização, a economia de plantação à base de açúcar, cacau, limão e banana, uma depois da outra, massacrou o terreno já considerado difícil e não era adequada devido à tendência histórica de choques ambientais na região.

As práticas anciãs do povo Kalinago — que combinam a diversificação de culturas com outros métodos de plantação que estabilizam as encostas — devem agora ser ressuscitadas.

4. Colaboração com ilhas vizinhas

A Dominica, juntamente com outros estados caribenhos, defende um acesso melhorado ao financiamento climático. Apesar dos compromissos das nações mais abastadas em fornecer centenas de milhares de milhões em financiamento climático, nações insulares pequenas como a Dominica recebem sempre desproporcionalmente menos apoio.

A Iniciativa de Bridgetown, orquestrada pela Primeira-Ministra de Barbados, Mia Mottley, por exemplo, pretende estabelecer reformas financeiras que beneficiem estados caribenhos altamente endividados e vulneráveis ao clima e outros países em desenvolvimento.

Tomás Guimarães, ZAP //

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