A derrota de Kamala Harris está a mergulhar os Democratas num clima de guerra civil, com trocas de acusações e muitos a culpar Joe Biden.
Ainda no rescaldo da vitória arrasadora de Donald Trump, que venceu todos os sete estados decisivos nas presidenciais e também reconquistou o Senado, os Democratas estão às avessas e a apontar os dedos à procura de culpados.
O partido está agora mergulhado num clima de “guerra civil” entre a ala mais progressista e a ala mais conservadora. O Senador independente Bernie Sanders, que impulsionou o movimento que deu azo à eleição dos congressistas mais à esquerda, saiu ao ataque contra o partido, acusando-o de “abandonar a classe trabalhadora” e de servir os “grandes interesses financeiros”.
Dentro da ala fiel a Kamala Harris, Joe Biden é o principal culpado, com vários Democratas a considerar que devia ter desistido da corrida mais cedo ou que nem sequer devia ter concorrido a um segundo mandado.
“Ele não devia ter concorrido. Esta não é a altura de andar com rodeios ou de se preocupar com os sentimentos de alguém. Ele e a sua equipa causaram enormes danos a este país”, considera Jim Manley, conselheiro do ex-líder do Senador Harry Reid.
Várias entrevistas ao Politico de altos responsáveis e conselheiros dos Democratas apontam a idade avançada de Biden e as dúvidas sobre a sua acuidade mental como os principais fatores que descarrilaram a campanha, acusando-o de desperdiçar meses valiosos antes da sua performance desastrosa no debate com Trump.
Quando Biden passou o testemunho a Kamala Harris, a apenas 107 dias da eleição, a candidata já tinha pouco tempo para ultrapassar todos os desafios e a desvantagem nas sondagens, apontam.
“Ela conduziu uma campanha extraordinária dada a situação muito dura que herdou. A verdade é que Biden deveria ter-se afastado mais cedo e deixado o partido elaborar um plano de jogo mais longo”, aponta Mark Longabaugh, estratega Democrata e antigo conselheiro de Bernie Sanders.
A veterana Nancy Pelosi, que é um dos rostos mais influentes do partido e foi uma das principais defensoras da desistência de Biden, também pareceu culpar o chefe de Estado pela derrota, já que a sua saída tardia obrigou o partido a mobilizar-se rapidamente em torno de Kamala Harris sem considerar outras opções.
“Se o Presidente tivesse desistido mais cedo, poderíamos ter tido outros candidatos na corrida. Temos de viver com o que aconteceu. E porque o Presidente apoiou Kamala Harris imediatamente, isso realmente tornou quase impossível ter uma primária nesse momento. Se tivesse sido mais cedo, teria sido diferente“, comentou a ex-Presidente da Câmara dos Representantes ao New York Times.
Campanha de Biden culpa conselheiros de Obama
Do lado de Joe Biden, o Presidente parece continuar convencido de que as suas ligações às causas sindicalistas e a sua reputação de “Union Joe” teriam sido o fator decisivo para derrotar Donald Trump. A menos de seis semanas do dia da eleição, Biden confessou numa entrevista ao programa The View que estava “confiante de que ia ganhar a Trump”.
Segundo fontes do Politico Playbook, os membros da campanha de Biden não ficaram contentes com os responsáveis Democratas que consideram que o Presidente foi a “única razão” por trás da derrota.
Por sua vez, os conselheiros de Biden culpam os conselheiros de Obama pelos erros na campanha de Kamala Harris. “Não há uma razão única pela qual perdemos, mas uma razão grande é porque os conselheiros de Obama encorajaram publicamente uma luta interna para afastar Joe Biden, nem sequer queriam Kamala Harris como a nomeada, e depois passaram por salvadores da campanha apenas para usar táticas desatualizadas da era Obama para uma candidata que não era Obama”, afirma uma fonte.
O conselheiro de Biden acrescentou sarcasticamente que gostava de um shot “do que eles andaram a beber se 100 dias extra de campanha para Harris em vez de Biden teria mudado os resultados” da eleição.
Tanto os críticos como os apoiantes de Biden concordam numa coisa: o regresso de Trump será uma mancha no legado do ainda Presidente, cujo mandato estará agora inextricavelmente ligado à vitória trumpista.
A raiva contra o partido no poder
A derrota de muitos candidatos apoiados por Trump nas eleições intercalares de 2022 parecia ter ditado o fim da febre trumpista entre os Republicanos, com os Democratas a sair-se melhor do que o esperado.
Este teste eleitoral parecia abonar um bom resultado para os Democratas nas presidenciais — mas há quem ache que o partido estava condenado à derrota independentemente de quem fosse o candidato e que era uma questão de tempo até que a recente tendência europeia de castigar o partido no poder contagiasse os Estados Unidos.
“As pessoas, por qualquer razão, sentem que era melhor há quatro anos – e não creio que pudéssemos lutar contra isso. Temos uma imagem má agora”, considera um antigo funcionário Democrata apontando para a percentagem crescente de eleitores latinos e negros que votaram em Trump.
“Teria sido melhor se tivessemos tido uma primária, mesmo que Harris fosse a eventual vencedora. E era necessário que o candidato Democrata se separasse de um incumbente impopular, por muito que gostemos de Joe Biden. Nenhuma destas coisas aconteceu”, remata o congressista Seth Moulton.
O elo mais fraco (Biden) é que é o culpado? Culpados são dois: a Kamala e Donald Trump com a sua categórica campanha. Kamala com o seu radicalismo pseudo-progressista, irritou muitos americanos. E os seus improprérios descontrolados sobre Trump, foi lume que lhe caiu em cima. Atenção que Obama também é um dos grandes derrotados. O seu tempo terminou de vez.