De cabelos ao vento, a ouvir Leonard Cohen, Greg Russ de 72 anos é agora um feliz camionista, depois de já ter sido um triste diretor executivo.
Foi em 2008 que a realidade caiu sobre Greg Ross – ou, se preferirmos, que Greg Ross caiu sobre a realidade – e admitiu que estava a ter um esgotamento.
A história é contada na primeira pessoa ao The Guardian.
Greg Ross viajava de avião, de Auckland para em Perth, na Austrália, no regresso a casa, depois do funeral do tio, quando olhou para as nuvens e decidiu: “Vou desistir…“.
O agora camionista australiano lamenta que tenha demorado mais tempo do que o suposto a reconhecer o seu problema: “Provavelmente é uma coisa muito comum na minha geração. Nunca podemos chorar, nunca podemos desistir, temos de ser duros”.
“Lutamos dentro de nós, achamos que há algo de errado connosco e dizemos: ‘Eu sou um fracasso'”, desabafou.
Greg Ross era CEO de uma companhia de teatro, depois de ter sido, durante décadas, executivo de marketing, numa empresa de carros de luxo. Era bem sucedido, mas não era feliz.
Consciente disso, decidiu despedir-se e avisou a família que ia candidatar-se a um emprego de camionista.
O australiano contou ao The Guardian que sempre foi um adepto de veículos – paixão que sempre partilhou com o falecido tio -, “sejam eles quais forem“.
“A empresa questionou-me: ‘no seu currículo não consta nada sobre conduzir camiões’. Mesmo assim, fui selecionado para fazer testes, durante 15 dias”, contou.
Greg Ross conseguiu entrar para a empresa em 2011, “para conduzir os maiores camiões do mundo. Cinco reboques, 190 pés de comprimento, 480 toneladas e dois motores”.
Agora com 72 anos, tem contrato a tempo inteiro, trabalha 12 horas por dia e durante 14 dias seguidos, antes de ter uma semana de folga.
Se é uma rotina saudável e preventiva de um novo esgotamento? Não parece, mas o que é certo é que, agora, Greg Ross tem prazer naquilo que faz.
“Quando faço uma viagem de ida e volta de 300 km, a capacidade de pensar é maravilhosa. Sou muito feliz na minha própria companhia. Gosto de quem sou e de onde estou”.
Ross diz que ama a solidão. ‘No seu escritório’, põe música clássica, Rolling Stones, Leonard Cohen… “Mas, outras vezes, só quero silêncio”, confessou.
Na viragem do século, teve cancro da tiroide e os médicos deram-lhe apenas três meses de vida – mas, ao contrário do que se previa, atropelou a doença, com distinção.
Greg Ross encarou aquilo como uma “segunda oportunidade” para viver, e não teve medo de ir atrás de um sonho e ser feliz.
Aos 72 anos, diz que a condução o faz manter a forma, e espera fazê-lo durante mais uns anos: “Já vi homens envelhecerem de repente. Não sabemos quando nos vai acontecer a nós, mas comigo o copo está sempre meio cheio e há sempre um garçom a vir com outra garrafa”.