“Não podemos deixar a liberdade morrer”. Marcelo deixa recados a Costa no 5 de Outubro

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Tiago Petinga / Lusa

O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa durante a cerimónia comemorativa do 113º aniversário da Implantação da República Portuguesa, na Câmara Municipal de Lisboa

Marcelo aproveitou o discurso das comemorações do 5 de Outubro para defender o espírito reformista e para frisar a importância de envolver mais jovens na política.

As celebrações do 113.º aniversário da Implantação da República decorreram esta manhã na Praça do Município, em Lisboa.

Depois de Marcelo Rebelo de Sousa abrir a cerimónia ao içar a bandeira portuguesa, foi Carlos Moedas quem teve a palavra. O autarca de Lisboa considera que esta data deve ser “um tiro de partida para algo melhor” e não apenas “celebrada pelos políticos, mas de certa forma ignorada pelas pessoas”.

“Aproveito para anunciar que para além da data histórica do 25 de Abril festejaremos também com uma grande iniciativa o 25 de Novembro. Porque todas as datas contam”, acrescentou.

Moedas considera isto um exemplo do “divórcio actual” entre a política e as pessoas porque os políticos “falam de um país imaginário” que “contrasta com o país real”. Esta desconexão entre os políticos e o povo cria um “vazio” que é “capturado pelas minorias barulhentas e os activismos radicais”.

“Lembrem-se: a República de 1910 autodestruiu-se também por causa dessas minorias barulhentas e desses activismos”, frisa o social-democrata.

O Presidente da Câmara de Lisboa dirigiu-se ainda a António Costa, dizendo que o município está disposto a “ajudar” o Governo e para “construir um estado social local” que responda às necessidades dos mais idosos.

O autarca também não se esqueceu dos jovens, que pertencem a uma “geração adiada nos seus sonhos”, recomendado a criação de “emprego virado para o futuro”. Apontado como um possível futuro líder do PSD, Moedas aproveitou ainda para defender a redução dos impostos. “É possível não trabalhar apenas para alimentar a máquina do Estado”, insiste.

“Instituições mudam a bem ou a mal”

Foi depois a vez do Presidente da República ter a palavra. O chefe de Estado começou o discurso lembrando todas as mudanças que Portugal viveu nos últimos 113 anos, pedindo que se tirem “lições do passado”.

Marcelo Rebelo de Sousa avisa que as instituições internacionais e portuguesas ou “mudam a bem ou mudarão a mal”, ou seja, “tarde e atabalhoadamente”. Se as democracias liberais “demorarem eternidades a compreender que devem evoluir, reformar-se e reaproximar-se dos povos”, deixarão “espaço para que outros preencham o vazio que vão deixando atrás de si”.

O Presidente falou ainda “na guerra global feita de muitas outras guerras” e alertou para os tantos que insistem “em não ver que a balança de poderes do mundo está em mudança”.

“Vivemos mais liberdade e não podemos deixar morrer essa liberdade toda a ela, incluindo a liberdade de pensamento e de expressão”, alerta.

Na análise do Presidente da República, isto poderá acontecer se houver atrasos com o clima, a energia, a inteligência artificial ou em relação ao “peso das comunidades” como as Nações Unidas, União Europeia, CPLP, NATO ou mundo ibero-americano.

“Tudo isso poderá suceder com a incapacidade ou a lentidão do superar da pobreza e das desigualdades sociais, ou no reconhecimento do papel do mulher, ou do papel das minorias migrantes e em particular dos jovens”, alertou.

Tal como Moedas, Marcelo frisou a importância de aumentar a participação cívica dos jovens. “Em 2023, temos tempo, não é ilimitado, no mundo, na Europa, entre nós, para abrir espaço aos mais jovens, a novas ideias e novos caminhos, a liderança dos nossos futuros. Em liberdade e democracia, a liberdade e democracia que queremos que triunfará sempre”, afirmou.

Costa defende adesão da Ucrânia à UE

Na reação ao discurso do Presidente da República, António Costa descreveu a intervenção como “particularmente interessante” e considera que uma das reformas mais necessárias é a adesão da Ucrânia à União Europeia.

“Vamos debater o futuro da Europa do ponto de vista estratégico” no próximo Conselho Europeu “e há decisões a tomar relativamente ao alargamento“, adianta o primeiro-ministro.

Costa considera ainda que a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) é uma “condição essencial para assegurar uma paz justa e duradoura” no país, mas que “implica reformas” na UE para que seja “um caso de sucesso”.

“É um PM contrário a reformas”

Já os partidos interpretaram o discurso de Marcelo de forma diferente, com muitos a considerar que o Presidente da República estava a fazer uma crítica velada à falta de reformas profundas feitas pelo Governo.

Hugo Soares, secretário-geral do PSD, salienta o “apelo repetido do Presidente da República às reformas, a que se governe”, considerando que ficou implícita uma crítica ao Governo socialista.

André Ventura concorda, falando num “recado” para Costa. O líder do Chega acredita que Marcelo estava a dizer “senhor primeiro-ministro, ou muda agora ou a mudança acontecerá contra si, contra a democracia”.

Do lado da Iniciativa Liberal, Rui Rocha frisa que Costa é um “primeiro-ministro contrário a reformas, que se centra na gestão do dia a dia“.

À esquerda, a líder da bancada do PCP critica a ausência dos “problemas concretos do país” do discurso de Marcelo, como o “aumento dos salários e das pensões” ou as crises na saúde e na habitação.

Já sobre as comemorações do 25 de Novembro, Paula Santos frisa que foi o 25 de Abril que “nos trouxe o caminho de progresso”, a “conquista da liberdade” e a “democracia” e que “pôs fim” à repressão e à ditadura.

Em nome do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares criticou Marcelo por dizer que devemos tirar lições do passado sem se “focar num dos grandes problemas” dos mais jovens, referindo-se à habitação.

Em relação às celebrações do 25 de Novembro anunciadas por Moedas, o líder da bancada bloquista considera serem um truque para “desviar as atenções”.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. Bem ……não vale a pena tentar compreender o que o P.R quer transmitir . Aqui há duas hipóteses , ou o Costa continua a ser o mau Aluno ou o Marcelo é um péssimo Professor ! . Por mim acho que podemos optar por as duas “evidencias” .

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