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Decotes milenares da antiga China não passam na moderna censura de Pequim

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瓜蛋 / Flickr

Figurino da imperatriz da China, Wu Zetian, vestida com um traje da dinastia Tang. Conhecida como Imperatriz Wu, foi a única mulher na história da China a ocupar o trono imperial

“Imperatriz da China”: Wu Zetian, vestida com um traje da dinastia Tang. Conhecida como Imperatriz Wu, foi a única mulher na história da China a ocupar o trono imperial

Mais de um milénio depois, os decotados vestidos em voga entre as concubinas e as aias da Dinastia Tang, considerada uma época áurea da civilização chinesa, revelaram-se demasiado ousados para o gosto dos censores comunistas.

A transmissão da série televisiva “Imperatriz da China“, iniciada no dia 21 de dezembro e interrompida depois por “problemas técnicos”, foi retomada na semana passada, mas com as protagonistas filmadas em grandes planos, de modo a ocultar o seu peito e parte dos seios, que os pronunciados decotes deixavam ver.

“Agora só se vêem cabeças grandes”, lamentou um internauta, num dos muitos comentários difundidos nas redes sociais.

O novo enquadramento terá sido imposto pela Administração Estatal do Imprensa, Publicações, Rádio, Cinema e Televisão, no âmbito do seu apertado controlo sobre tudo o que diz respeito à exposição do corpo e à sexualidade, mas nem aquele organismo nem os produtores da série, a Televisão Provincial de Hunan, quiserem pronunciar-se sobre o assunto.

“Como se pode considerar pornografia a exposição de parte dos seios? Isto não será antes uma manifestação de feudalismo?”, questionou um bloguer.

Um especialista da Universidade de Pequim, Chen Shaofeng, diz por seu turno a um jornal local que a nova versão da série “carece, de facto, de um toque estético” e “é suscetível de contrariar a atmosfera da dinastia Tang”.

(dr) China Film Group Corporation

Conhecida como Imperatriz Wu, a única mulher na história da China a ocupar o trono imperial é interpretada na TV pela atriz, cantora e produtora chinesa Fan Bingbing

Conhecida como Imperatriz Wu, a única mulher na história da China a ocupar o trono imperial é interpretada na TV pela atriz, cantora e produtora chinesa Fan Bingbing

“Ao cortar as imagens mais reveladoras, o regulador poderá ter-se excedido”, afirmou Chen Shaofeng, vice-diretor do Instituto das Industrias Criativas da Beida.

Mas também há quem concorde com os cortes: “Com tantos seios, mal podia olhar para a televisão”, escreveu um bloguista citado pela agência noticiosa oficial chinesa.

No cinema e na televisão chinesas, não há cenas explícitas de sexo e mesmo os beijos são discretos e muito rápidos.

Numa circular emitida em novembro passado, a Administração Estatal da Imprensa, Publicações, Radio, Cinema e Televisão ordenou até que peças ou programas descrevendo relações sexuais fora do casamento ou polígamas deviam ser cortadas ou apagadas.

A história desta série centra-se na figura de Wu Zetian, a única Imperatriz da China, que governou o país no final do século VII. Concubina do imperador Taizong, Wu Zetian casou mais tarde com o seu sucessor e depois de este morrer ascendeu ela própria ao trono.

O papel principal é interpretado por Fan Bingbing, uma das novas estrelas do cinema chinês. Actriz, cantora e produtora, Fan participou no elenco de “X-Men: Days of Future Past” e “Iron Man 3”. Segundo adiantou a imprensa oficial, a produção custou 300 milhões de yuan (40 milhões de euros), dez milhões dos quais (1,3 milhões de euros) só para o guarda-roupa.

A Dinastia Tang, descrita habitualmente como um dos períodos de maior esplendor da multimilenar civilização chinesa, governou entre os séculos VII e IX.

“A abertura da Dinastia Tang está bem patente nos casamentos e nas relações humanas. As mulheres, por exemplo, podiam casar mais de uma vez”, assinalou o historiador chinês Zhang Guogang, citado pelo Global Times.

DR China Film Group Corporation

Nos episódios recentes de "A Imperatriz da China" as personagens femininas apresentam-se mais "recatadas"

Nos episódios recentes de “A Imperatriz da China” as personagens femininas apresentam-se mais “recatadas”

// Lusa

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