A ideia de um “gene da depressão” capturou a imaginação de cientistas durante décadas. Nos últimos 20 anos, centenas de estudos sugeriram que pessoas com a variação de determinados genes têm um maior risco de sofrer de depressão.
Um novo estudo da Universidade de Colorado Boulder que avaliou dados genéticos e estudos de 620 mil indivíduos descobriu que 18 genes candidatos para a depressão mais estudados não estão associados à doença – pelo menos, não mais do que genes escolhidos aleatoriamente.
Os estudos anteriores estão incorretos – ou são falsos positivos – de acordo com o comunicado que acompanha esta investigação. Os autores são categóricos: a comunidade científica deve abandonar o que se conhece como “hipóteses dos genes candidatos”.
Para o estudo, publicado na revista American Journal of Psychiatry, os autores analisaram 18 genes que apareceram pelo menos dez vezes em estudos focados na depressão. Entre eles estava um gene chamado SLC6A4, envolvido no transporte da serotonina neuroquímica. Uma investigação com 20 anos sugerem que pessoas com uma certa versão “curta” do gene apresentam um risco significativamente maior de depressão, particularmente quando expostas a traumas precoces.
Os investigadores também analisaram os genes envolvidos na produção do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), uma proteína envolvida na formação do nervo, e o neurotransmissor dopamina.
Usando dados genéticos e de levantamentos recolhidos por indivíduos através do Biobank do Reino Unido, 23andMe, e do Psychiatric Genomics Consortium, decidiram verificar se algum dos genes, ou variantes genéticas, estava associado à depressão isoladamente ou quando combinado com um fator ambiental como trauma de infância ou diversidade socioeconómica.
“Descobrimos que, como um conjunto, os genes candidatos não estão mais relacionados com a depressão do que qualquer gene aleatório”, disse Matthew Keller, professor de psicologia e neurociência. “Os resultados, até para nós, foram um pouco impressionantes.”
Keller observa que, no campo da genética, os cientistas sabem há anos que as hipóteses do gene candidatos tinham falhas. Mas invetsigadores esperançosos continuaram a publicar estudos – frequentemente baseados em amostras menores – que mantiveram a ideia de um pequeno conjunto de “genes depressivos”.
“O estudo confirma que os esforços para encontrar um gene ou um conjunto de genes que determinem a depressão irão falhar”, disse Richard Border, investigador no Instituto de Genética Comportamental e líder da investigação.
Já Keller sublinhou o facto de isto não significar que a depressão não seja hereditária. “O que estamos a dizer é que a depressão é influenciada por muitas variantes e, individualmente, cada uma tem um efeito minúsculo”.
Enquanto isso, os consumidores devem ter cuidado com alegações de que genes individuais têm grandes efeitos em comportamentos complexos. Embora o risco de algumas condições médicas, como o cancro de mama e a doença de Alzheimer, esteja claramente ligado a genes individuais, não é tão simples com características como a depressão. “Sempre que alguém afirma ter identificado o gene que causa um traço complexo, é hora de ficar cético”, disse Border.
Este estudo é a maior e mais abrangente investigação sobre os genes candidatos à depressão até ao momento.