O único debate feminino teve uma “metralhadora” contra a eficácia

ZAP // Tiago Petinga, António Cotrim / Lusa

Navalny, mulheres e bala de prata. O resumo do encontro entre Mariana Mortágua e Inês de Sousa Real.

No penúltimo dia de debates televisivos um contra um, o único encontro entre candidatas: Mariana Mortágua e Inês de Sousa Real. Foi o último debate televisivo (individual) para ambas.

A morte de Alexei Navalny e a guerra em Gaza foram as primeiras notas deixadas por Mortágua, com palavra de reconhecimento para António Guterres e Jorge Moreira da Silva, responsáveis da ONU. E espera que o próximo Governo português reconheça a Palestina como um Estado.

A primeira pergunta tinha sido sobre a disponibilidade para um acordo entre BE e PS. O Bloco, repetiu Mortágua, “quer fazer parte de uma solução e que isso implica virar a página da maioria absoluta, que foi um desastre”. Inês foi questionada sobre eventuais acordos a nível nacional depois de ter apelado à saída de Miguel Albuquerque na Madeira; mas essa foi uma “atitude responsável” do PAN. “Não nos precipitámos”, assegurou.

No ambiente/economia, Mariana Mortágua garantiu que a esquerda tem um modelo de crescimento para o país e que é contra o modelo de “privatizações, um modelo rentista em que grandes empresas operam monopólios privados, que é também o modelo que se desenvolveu na Madeira, de especulação imobiliária, de portas-giratórias, favorecimento a interesses poderosos. É preciso travar este modelo, e isso quer dizer não aos projetos PIN e revogar essa lei, revogar o simplex ambiental (a porta-voz do PAN concordou), alterar as leis das minas, proteger o território e as populações. E o caso da Madeira mereceu o apoio do PAN”, atirou.

Inês de Sousa Real espera passes gratuitos para todos os portugueses, em defesa do ambiente, e reagiu a esta crítica da adversária: “O PAN não apoia essas medidas. O nosso compromisso, que achamos que é o mesmo de todas as forças democráticas, é o de que o populismo antidemocrático não ascenda ao poder e foi isso que o PAN fez de forma responsável”. Pergunta de Mortágua: “Como é que, em nome do ambiente, se apoia o pior Governo que o PSD tinha para apresentar? É um governo exemplo de destruição ambiental”. Inês de Sousa Real reforçou que é preciso “travar a extrema-direita” em Portugal.

Em relação ao salário mínimo nacional, o Bloco defende um aumento para 900 euros já neste ano e aumentos posteriores acima da inflação para garantir a recuperação do poder de compra; e destaca a necessidade de um subsídio de turno. O PAN quer 1.100 euros até 2028 para “acomodar inflação e acompanhar o crescimento de acordo com a média da União Europeia”, mas também são precisas medidas para as empresas.

Precisamente sobre empresas, nos impostos, nova crítica de Mortágua ao PAN, por causa da proposta de baixar o IRC para 17%. E repetiu a expressão “borla fiscal” dada a grandes empresas: “Quem paga o IRC são as empresas que têm enormes lucros, algumas delas responsáveis por atentados ambientais como a Galp que com a medida do PAN beneficiaria quase 260 milhões em quatro anos com esta proposta, ou a indústria da celulose ou a banca que teriam borlas fiscais”. Inês considera que descer o IRC é um incentivo ao investimento; e aposta em taxar os lucros da banca “e de quem mais polui”.

Noutro assunto, habitação, Inês de Sousa Real disse que não percebe porque o BE não apoia a proposta de descida do IMI “para que os jovens possam ter casa própria. É preciso abandonar preconceitos ideológicos”. Mariana Mortágua lembra que o BE quer baixar o IMT para compra de casa própria e permanente: “O que não digo é que reduzir o IMT vai baixar o preço da habitação. É indecente uma casa custar 300 mil euros. Quero é baixar os preços das casas. Não tento apresentar medidas justas do ponto de vista fiscal, como se fossem uma bala de prata para baixar os custos das casas”. E repetiu a ideia de baixar os juros do crédito à habitação na Caixa Geral de Depósitos, além de limites às rendas, controlar a “oferta externa milionária”, o alojamento local e o turismo “desenfreado”.

Novas críticas à adversária: “Não vale a pena dizer que a descida de IRC de 21% para 17% serve para as pequenas empresas porque 99% das empresas em Portugal são pequenas ou médias empresas e já pagam 17% sobre os primeiros 50 mil euros dos lucros tributáveis e quase metade não paga IRC. Estamos a falar das grandes empresas. Acompanho a necessidade de taxas sobre carbono, o que não percebo é porque é que se introduzem essas taxas e, por outra porta, se dá um benefício à Galp de 267 milhões de euros em quatro anos não faz parte do ponto de vista ambiental ou social”.

No fim, as mulheres falaram sobre mulheres. Mariana Mortágua apelou ao voto no Bloco, um partido que tem “propostas justas” e destacou que a crise na habitação está muito ligada à emancipação de mulheres. Já Inês de Sousa Real reforçou que o o PAN tem “feito um caminho na promoção de igualdade de género”, destacando por exemplo a “luta pela consagração do crime de assédio sexual”.

A porta-voz do PAN lembrou um dado da História de Portugal: “Em 50 anos de democracia somos (Inês e Mariana) apenas as quinta e sexta mulheres que lideram um partido político. Há um caminho a fazer em termos de igualdade de género”.

Um debate quase sem interrupções mas algo tenso, mesmo sem diálogos directos ou com sobreposições. Para o jornal Observador, a coordenadora do BE tentou isolar o PAN, que reagiu com a provável influência na formação do próximo Governo. Já a revista Sábado viu uma Mortágua mais eficaz e uma Inês que pecou por excesso de temas apresentados e que parecia uma “metralhadora de propostas, dando vitória clara à líder do Bloco de Esquerda.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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