A forma como Leonardo da Vinci aprendeu a desenhar é tudo menos convencional e foi muito sustentada no conhecimento científico.
Leonardo da Vinci, um dos polímatas mais icónicos da história, deixou uma marca significativa no mundo da arte e da ciência. A abordagem inovadora de da Vinci à anatomia contribuiu significativamente para as suas representações realistas nas suas obras de arte, por exemplo.
No ano de 1480, com aproximadamente 37 anos de idade, da Vinci iniciou um período transformador na sua carreira. Os dois estudos anatómicos que produziu durante este período retratavam o crânio humano de vários ângulos, com destaque para a localização conhecida como “sensus communis” ou senso comum. De acordo com as crenças de filósofos antigos como Platão e Hipócrates, este sensus communis servia como epicentro da alma, orquestrando as funções corporais e a perceção sensorial.
Nascido durante o Renascimento, da Vinci estava rodeado pelo Humanismo, um movimento intelectual enraizado nos textos sobreviventes da antiguidade clássica. No entanto, o seu conhecimento limitado do latim impediu-o de se aprofundar nestas obras antigas. Em vez disso, da Vinci adotou uma abordagem educativa única, baseada nas suas próprias observações e experiências.
Esta abordagem permitiu a da Vinci explorar vários assuntos, desde o cálculo da constante gravitacional até à invenção do para-quedas. Além disso, facilitou a criação de obras de arte famosas pela sua qualidade realista, como a icónica Mona Lisa e a Última Ceia.
Para atingir este nível de realismo na sua arte, da Vinci percebeu a importância de compreender a anatomia humana. Os seus estudos foram além da superfície, abrangendo a rede de músculos por baixo da pele, bem como os ossos e órgãos escondidos no seu interior.
As primeiras incursões de Da Vinci na anatomia foram algo desfocadas, marcadas por uma mistura de conhecimentos recebidos, dissecações de animais e especulação. No entanto, no inverno de 1507-08, recebeu autorização para realizar a sua primeira autópsia, marcando um momento crucial nas suas atividades anatómicas. Ao longo dos anos, fez inúmeras autópsias, acabando por dissecar mais de 30 corpos humanos.
Estas dissecações alimentaram a crescente compreensão de da Vinci sobre a anatomia humana, levando a desenhos que se afastavam das convenções clássicas. Enquanto os antigos estudiosos gregos e romanos idealizavam a forma humana nos seus estudos, da Vinci pretendia representar o corpo tal como a natureza o concebeu, explica o site Big Think.
Uma das suas obras mais famosas, o Homem Vitruviano, incorpora esta filosofia. Inspirado por Vitrúvio, o arquiteto romano, da Vinci desenhou uma representação anatomicamente precisa do corpo humano. De seguida, integrou o quadrado e o círculo para se adaptarem a esta representação exata, invertendo o processo seguido pelos anteriores artistas do Renascimento.