Da próxima vez que vencer um vírus, agradeça aos seus ancestrais microbianos

ZAP // Dall-E-2

Algumas das primeiras armas que o nosso corpo usa para combater um vírus foram transmitidas pelos nossos ancestrais microbianos há milhares de milhões de anos.

Uma equipa de investigadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, descobriu que dois elementos-chave do nosso sistema imunológico inato – as proteínas viperinas e argonautas – vieram de um grupo de micróbios chamado Asgard archaea.

Segundo o EurekAlert, a descoberta reforça a ideia de que toda a vida complexa, conhecida por eucariota, surgiu de uma relação simbiótica entre bactérias e Asgard archaea.

“Isto sustenta a ideia de que os Asgard são os nossos ancestrais microbianos”, enfatizou Brett Baker, cientista pertencente a esta equipa de investigação que identificou, pela primeira vez, um grande arsenal de sistemas de defesas em archaea que, até agora, eram apenas conhecidos em bactérias.

Quando as viperinas detetam ADN estranho, que pode ser o sinal de um perigoso vírus, editam o ADN para que a célula não consiga fazer cópias, impedindo assim a propagação do vírus.

Já quando os argonautas detetam ADN estranho, cortam-no, interrompendo da mesma forma a propagação do vírus. Em organismos mais complexos, os argonautas podem impedir que o vírus produza proteínas, num processo conhecido como “silenciamento de ARN”.

Em laboratório, os cientistas compararam proteínas envolvidas na imunidade em toda a árvore da vida, tendo encontrado muitas relações entre elas.

Depois, usaram uma ferramenta de Inteligência Artificial, chamada ColabFold, para prever se aqueles que tinham sequências de aminoácidos semelhantes também possuíam formas tridimensionais idênticas.

Esta constatação mostrou que as variações da proteína viperina mantiveram a mesma estrutura e função em toda a árvore da vida. Perante esta descoberta, os investigadores criaram uma espécie de árvore genealógica, ou filogenia, dessas sequências e estruturas de aminoácidos que revelaram todas as relações evolutivas.

Num último momento da investigação, a equipa usou viperinas de genomas de Asgard archaea, clonaram-nas em bactérias (para que as bactérias expressassem as proteínas), desafiaram-nas com um vírus e provaram que as viperinas de Asgard dão alguma proteção às bactérias modificadas.

No fundo, sobrevivem melhor do que as bactérias sem as proteínas imunológicas.

“Esta pesquisa destaca o papel integral que as defesas celulares devem ter desempenhado desde o início da vida procariótica e eucariótica”, sublinhou a investigadora Emily Aguilar-Pine. “Também inspira questões sobre como a nossa compreensão moderna da imunidade eucariótica pode beneficiar ao desvendar algumas das suas origens mais antigas.”

O artigo científico foi publicado, no final de julho, na Nature Communications.

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