Não é só o ananás que esgota: Internet provocou crise do pepino

Receita de influencer canadiano gerou tal alvoroço que fez o vegetal desaparecer dos mercados na Islândia. Mas esta não é a primeira vez que as redes sociais causam uma corrida por alimentos específicos.

Hora do engate nos supermercados. É esse o assunto do momento nas redes sociais.

Tudo começou com um vídeo de uma influencer publicado nas redes sociais onde, na brincadeira, a atriz e apresentadora Vivy Lin contou que perguntou ao Google qual era a melhor altura para “namoriscar” no Mercadona – e teve uma resposta: 19h-20h.

A pessoa interessada numa relação pega num ananás, vira o ananás ao contrário no carrinho de compras e vai para o corredor dos vinhos. Depois, tenta encontrar outra pessoa que esteja a fazer o mesmo. Há lojas em Espanha onde, ao fim da tarde, já não há nenhum ananás à venda.

Na Islândia, um fenómeno parecido aconteceu com… pepinos. Mas a história começa a cerca de 4 mil quilómetros e mais de oito horas de voo do país insular.

Crise do pepino

Pegue num grande recipiente transparente com tampa e, sem grandes cerimónias, encha-o com um pepino inteiro ralado em fatias e um pouco de queijo creme. Acrescente uma fatia de salmão fumado, cortada miudinha com a ajuda de uma tesoura, e cebola roxa ralada em fatias. Depois, adicione molho de salada e despeje uma colher de alcaparras, sumo de limão, sementes e bastante glutamato monossódico para realçar o sabor.

Antes que a mistura transborde, tape o recipiente e sacuda-o como um barman quando prepara uma caipirinha… e voilà, está pronta a refeição!

Estrela do TikTok, com quase 6 milhões de seguidores, os vídeos do canadiano Logan Moffitt com diferentes receitas de pepino já foram vistos mais de 30 milhões de vezes. No mundo digital, é conhecido pelo apelido “The Cucumber Guy”: o tipo do pepino.

 

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Receita torna-se problema

Na Islândia, os vídeos de Moffitt tornaram-se um problema.

Até então, gargalos de abastecimento não pareciam fazer parte da vida no pequeno país insular europeu no norte do Atlântico, com os seus quase 400 mil habitantes.

Também não se sabia que a Islândia, conhecida principalmente pelos seus vulcões, clima impetuoso e paisagens ancestrais, tivesse alguma obsessão especial por pepinos – vegetal cuja produção doméstica em estufas é de seis milhões de unidades, uma média anual de mais ou menos 15 pepinos por habitante.

Só que desde que as receitas de saladas de pepino de Moffitt caíram no gosto de alguns islandeses no início de agosto, a procura pelo vegetal explodiu e fez com que ele desaparecesse dos supermercados.

Como consequência, a Islândia começou a importar pepinos dos Países Baixos.

Mas a influência do canadiano foi além do pepino.

Outra receita de salada de pepino de Moffitt — que leva óleo de sésamo, vinagre de arroz e alho – tornou-se tão popular entre os islandeses que fez esgotar também esses outros ingredientes no país, segundo a BBC.

Mas tudo sã modas que surgem tão rápido quanto desaparecem.

Ananás, pepino e muito mais

Não é de longe a primeira vez que influencers nas redes sociais desencadeiam uma corrida por alimentos específicos — ainda que na maioria das vezes não afete países inteiros.

Em julho de 2023, um blogger de comida publicou no TikTok imagens de croissants com recheios coloridos comprados numa padaria de Nova Iorque. Apesar do preço elevado – quase 10 dólares por unidade –, o vídeo fez o estabelecimento ser praticamente invadido pela clientela. Durante dias, formaram-se enormes filas em frente ao estabelecimento, que chegou a limitar a compra a dois croissants por cliente.

Em janeiro de 2024, o influencer suíço Steve Merson anunciou no TikTok que distribuiria kebabs de graça nos arredores de Zurique. A sensação foi tal que a polícia teve de dispersar a multidão duas horas depois.

Em Nuremberga, na Alemanha, um restaurante foi invadido por uma multidão após duas youtubers anunciarem a criação de um prato próprio. Noutra cidade, Ratisbona, a cena repetiu-se após três estrelas do universo gamer anunciarem nas redes sociais que distribuiriam guloseimas noutro estabelecimento.

Criações cada vez mais malucas

O que todas estas modas gastronómicas têm em comum é que surgem e passam com a mesma rapidez.

Também na Islândia a indústria alimentar parece relativamente despreocupada: o mais tardar numa semana o abastecimento de pepinos deverá ser regularizado, tranquiliza uma porta-voz da associação de agricultores.

No momento, o sucesso de Moffitt nas redes parece encorajá-lo a ousar cada vez mais nas suas criações: numa das suas mais recentes receitas, o “sujeito do pepino” mistura o vegetal com compota de morango, manteiga de amendoim e mel. É improvável, porém, que essa combinação desencadeie uma nova crise de abastecimento na Islândia.

ZAP // DW

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