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Preço da castanha vai aumentar. Fungo ataca de surpresa e produção cai para metade

(CC0/PD) jackmack 34 / Pixabay

2023 será “um ano perdido” para a castanha portuguesa. Um fungo atacou repentinamente a produção e vai reduzir significativamente a disponibilidade de castanhas para comércio — preços vão aumentar.

A produção de castanha em Portugal enfrenta uma situação crítica em 2023, frustrando as expectativas de que este pudesse ser um ano recorde para o setor.

Deitando abaixo as previsões otimistas de que a produção pudesse ultrapassar as 43 mil toneladas registadas em 2019, um fungo atacou fortemente as árvores de castanheiro por todo o país no início da última semana, provocando a secagem e queda antecipada das folhas, o que resultou na queda prematura dos ouriços que contêm as castanhas, sem o fruto.

A septoriose — causada por várias espécies de fungos do género Septoria —  costuma afetar principalmente culturas de cereais, como o trigo e a cevada, bem como diversas plantas ornamentais e hortícolas. A doença caracteriza-se pela formação de manchas foliares castanhas ou cinzentas, muitas vezes com um tom amarelado à volta. Estas manchas podem conter pequenos pontos pretos, que são os corpos frutíferos do fungo.

Estima-se que a produção caia para cerca de metade de um ano normal, embora ainda possa ser um pouco superior à de 2022, que foi de aproximadamente 23 mil toneladas, afirma o investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e dirigente da Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), José Gomes Laranjo, que explica, ao Dinheiro Vivo, que “num ano normal, pode representar cerca de 100 milhões de euros pagos diretamente aos produtores”.

“Um ano perdido”. Preço da castanha vai aumentar

A abrupta redução na produção levará a uma menor disponibilidade de castanhas para o comércio. Espera-se assim que o preço pago ao produtor atinja “um valor médio de cerca de 2 euros/quilo, o que originará um valor no consumidor entre 3,5 e 4 euros por quilo“, segundo Laranjo.

Na região da Padrela, uma das principais zonas de produção de castanha com Dominação de Origem Protegida (DOP), o fungo está a afetar 70% a 80% da produção, alerta Rodrigo Reis, presidente executivo da AgroAguiar, uma empresa situada em Vila Pouca de Aguiar, que lamenta a dura realidade: este é “um ano perdido”.

A crise tem consequências gravosas para a economia local de Trás-os-Montes, fortemente dependente da produção de castanha.

“Nesta região de Trás-os-Montes há uma forte economia dependente do negócio da castanha e que vai ser enormemente afetada por causa disto”, lembra.

Produtores querem task force

As flutuações climáticas, como as fortes chuvadas e ondas de calor ocorridas em setembro, são apontadas como os principais catalisadores para a disseminação da septoriose. O ciclo de vida do fungo inclui esporulação nas manchas foliares, que produzem esporos que são disseminados pelo vento ou salpicos de água. Condições de alta humidade e temperaturas moderadas favorecem o desenvolvimento da doença.

O controlo é geralmente feito através de práticas culturais, como a rotação de culturas e o uso de cultivares resistentes. Fungicidas também podem ser utilizados, mas o surgimento de estirpes resistentes é uma preocupação.

Para Rodrigo Reis, o impacto poderia ter sido minimizado com tratamentos preventivos coordenados por uma task force técnica do Ministério da Agricultura.

“Há tratamentos que se podem fazer para evitar isto, mas têm que ser demandados e coordenados a partir de uma task force técnica que o Ministério da Agricultura tem para as culturas, de forma a incentivar e a direcionar todas as associações do setor para que depois possam, no terreno, informar os agricultores”, apelou.

Tanto produtores como associações do setor apelam à tutela para a criação de incentivos seguros e informações atempadas que permitam enfrentar as oscilações da produção devido às alterações climáticas.

José Laranjo insiste na necessidade de mais investimento na formação e em projetos de investigação, dado que o número de agricultores dedicados à produção de castanha aumentou 50% na última década. O setor necessita de apoios mais ágeis e facilitadores para continuar a crescer de forma sustentada.

ZAP //

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