A crise da água em Gaza não é nova: população bebe água suja e salgada há anos

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Haitham Imad /Lusa

Residentes do campo de Khan Yunis a encher recipientes com água na Faixa de Gaza

Mesmo com a abertura da fronteira de Rafah, Gaza continua a ter graves problemas de saneamento — há apenas um aquífero, sobre-explorado e contaminado há anos. Implicações de saúde podem ser globais.

A 7 de outubro, o ataque de militantes do Hamas resultou em mais de 1000 mortes civis e 150 reféns foram levados de Israel.

Como retaliação, Israel — que controla duas das três principais passagens fronteiriças para Gaza; uma passagem comercial no kibuttz de Kerem Shalom e uma passagem pedonal em Erez, no norte da Faixa de Gaza — cortou o envio de bens essenciais para a Faixa de Gaza. Interrompeu o fluxo de eletricidade, combustível e outros bens. Paralelamente, iniciou bombardeamentos na área, matando quase 3000 pessoas.

Dias depois, Israel abriu brevemente uma linha de água e um prolongado apagão elétrico levou ao encerramento de todas as plantas de dessalinização de Gaza. A OMS adverte que a situação é grave para os civis e poderá levar a uma emergência de saúde pública.

Mais de 2 milhões de pessoas em Gaza enfrentam uma crise de água crescente depois de Israel cortar o fornecimento de água e eletricidade da região em resposta a ataques de militantes do Hamas, apesar de o Egito ter confirmado, esta quinta-feira, a abertura dos portões de Rafah, que vai permitir a passagem de centenas de camiões com ajuda destinada aos civis da Faixa de Gaza.

Mesmo com o fornecimento de água a ser restaurado, Gaza continua a necessitar de eletricidade para bombear água e corre sempre risco de contaminação da água devido à estagnação nos tubos.

A única fonte primária de água doce de Gaza é, lembra o New Scientist, um aquífero em rápido esgotamento, que tem sido sobre-explorado e contaminado ao longo dos anos. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 97% da água deste aquífero não cumpre os padrões de qualidade da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Quando se sobrecarrega um sistema de águas subterrâneas costeiro, frequentemente ocorre a penetração de água salgada. “Por isso, é salgada”, diz Peter Gleick, um cientista ambiental no Pacific Institute em Oakland, Califórnia, que estudou a infraestrutura hídrica de Gaza, ao NY Magazine. A água também se encontra poluída com nitratos que se infiltraram a partir de fertilizantes agrícolas e dejetos humanos e animais.

Aquecemos a água salgada e, quando arrefece, bebemo-la“, disse um local ao jornal focado no Médio Oriente The National, enquanto aguardava na fila para atestar o garrafão.

“Vim aqui para encher água para os meus filhos”, disse um outro local, pai palestiniano e refugiado. “As crianças pequenas precisam de beber e nós precisamos de fazer leite para eles. A água nos tanques é salgada e não é adequada para beber”, confessou.

Problema tem décadas. Implicações de saúde são amplas

A grave escassez de água em Gaza não é de agora: arrasta-se há décadas e coloca a população, que inclui um grande número de crianças, em elevado risco de doenças transmitidas pela água e desidratação.

Historicamente, a infraestrutura de água de Gaza tem sido enfraquecida pelos constantes conflitos com Israel e a restrições de importação por parte de Israel e do Egito, algo que tem dificultado a importação de equipamento essencial para manter os sistemas de água, entrave que deixa a infraestrutura de Gaza desatualizada e inadequada.

A crise atual compromete ainda mais as operações de saneamento, como o tratamento e eliminação de esgotos, tornando mais prováveis surtos de doenças, incluindo cólera e disenteria.

A crise não representa apenas uma ameaça para Gaza, mas tem também o potencial para implicações de saúde mais amplas, regionais e até mesmo globais. Em 2016, uma planta de dessalinização em Israel teve de ser encerrada periodicamente devido à poluição proveniente de Gaza. Especialistas alertam que doenças como cólera e poliomielite poderiam emergir.

Soluções propostas incluem a dessalinização da água do mar e a reutilização de águas residuais tratadas para agricultura. No entanto, essas opções exigem investimentos significativos e cooperação política sustentada.

A falta de água potável e saneamento adequado continua a representar uma grave crise humanitária na Faixa de Gaza.

Tomás Guimarães, ZAP //

2 Comments

  1. Mas alguém bebe água salgada no mundo? Que raio de título é este? E porque o sensor não deixa este texto ser aprovado? Não quer ser chamado à atenção? Enfim…

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