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Há crianças de 11 anos viciadas em pornografia (e gravam e vendem conteúdos sexuais)

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César Astudillo / Flickr

O contacto com a pornografia acontece cada vez mais cedo graças à Internet, e há crianças de apenas 11 anos a ficarem viciadas. Alguns adolescentes encarnam a pele de “actores” pornográficos e gravam e vendem os seus próprios filmes.

O estudo “EU Kids Online” que é financiado pela União Europeia, reporta que o primeiro contacto com a pornografia ocorre, normalmente, por volta dos 11 anos de idade.

Em Portugal, 40% dos rapazes e 26% das raparigas entre os 9 e os 16 anos já viram pornografia online, segundo o estudo que é citado pelo Expresso.

Contudo, estes números reportam-se a 2019, ao último estudo realizado. Entretanto, com a pandemia de covid-19 e os confinamentos, teme-se que os números tenham aumentado de forma significativa.

O Expresso relata o caso de um adolescente que entrou em contacto com o mundo da pornografia online precisamente durante a pandemia, quando tinha 10 anos.

Foi durante o primeiro confinamento e ficou obcecado, “andava nervoso e muito irritável”, e não conseguia parar de ver vídeos pornográficos.

A obsessão era tal que o jovem acabou por pedir ajuda aos pais que procuraram apoio psicológico.

“Chegou à consulta num estado de grande ansiedade. Tinha medo até de ver televisão, com receio de ver acidentalmente, num filme ou numa série, qualquer cena que pudesse funcionar como um gatilho e o levasse novamente a pesquisar compulsivamente conteúdos pornográficos“, relata a psicóloga Rita Rebordão que acompanhou o jovem, em declarações ao Expresso.

Rita Rebordão é também directora de aconselhamento na plataforma Dá o Clique que dá apoia a jovens e adultos que têm dependência por pornografia.

Pornografia funciona como uma droga

Falar em dependência e em vício, quando se trata de pornografia, pode parecer demasiado. Mas, efectivamente, a pornografia pode funcionar como uma droga, influenciando o sistema nervoso, nomeadamente os mecanismos associados ao prazer – e é isso que a torna viciante.

Quando o vício se manifesta em idades tão precoces, estamos perante uma situação ainda mais complexa, com consequências trágicas em termos de saúde mental e de desenvolvimento social e psicológico.

“O consumo intensivo de pornografia acarreta entre os mais novos um sentimento de culpa e vergonha tão intenso que a certa altura se torna insuportável”, explica ao Expresso o pedopsiquiatra Augusto Carreira que tem acompanhado jovens viciados em pornografia – o mais novo que seguiu tinha apenas 9 anos.

“Em alguns casos foram os pais que descobriram, noutros foram os próprios jovens que se sentiam tão angustiados que pediram ajuda”, revela.

O alarmismo é global, a tal ponto que já se fala de uma nova “pandemia assustadora”. E é complicado limitar, ou impedir, o acesso dos mais jovens à pornografia que existe em grandes volumes online, e “à mão de semear”.

Vídeos pornográficos “escondidos” atrás de princesas e super-heróis

As crianças podem ter o primeiro contacto com conteúdos de sexo explícito numa pesquisa inocente, motivada pela curiosidade. E isso vai levar os algoritmos usados por motores de pesquisa como o Google a exporem a criança a mais conteúdos semelhantes.

Mas os anúncios de sites pornográficos podem aparecer em plataformas populares de videojogos entre crianças e adolescentes, como o Fortnite e o Roblox.

Há também vídeos pornográficos “escondidos” no YouTube com títulos que reportam para figuras de desenhos animados.

Uma singela pesquisa por princesas da Disney, ou por super-heróis, pode também levar os menores, sem que o quisessem, a vídeos pornográficos que aparecem entre as sugestões dos “relacionados” e “sem que os pais façam ideia”, notam ao Expresso as fundadoras da Associação Mirabilis que sensibiliza para os riscos dos ecrãs nas crianças.

Este fácil acesso inclui conteúdos de sexo violento, com imagens inimagináveis para a maioria das pessoas no âmbito da chamada “pornografia de abutre” em que o objetivo é chocar o mais possível, para atrair visualizações.

No documentário “Geração Porno” realizado em Espanha, um adolescente conta que “a coisa mais aberrante” que já viu, em termos de pornografia, foi “uma miúda esquartejada a ser f*****”.

Em Portugal, “35% das crianças entre os 9 e os 11 anos e 23% dos jovens entre os 12 e os 14 admitem terem ficado perturbados pelo contacto com conteúdos pornográficos”, segundo o estudo do “EU Kids Online” citado pelo Expresso.

Pornografia ensina “visão distorcida” da sexualidade

O pedopsiquiatra Augusto Carreira alerta também que a pornografia online está a influenciar a forma como os jovens vivem a sua sexualidade e as relações de namoro.

“A pornografia está a servir de modelo para a aprendizagem da sexualidade, passando uma visão completamente distorcida e veiculando uma ideia de objectificação da mulher“, aponta, salientando que os rapazes acabam por pressionar as namoradas adolescentes a fazerem o que vêem nos vídeos.

O Expresso falou com Salvador (nome fictício), um homem agora com 33 anos que reconhece que foi viciado em pornografia entre os 16 e os 22, e que relata que isso o levou a “tratar mal” algumas raparigas com quem se relacionou.

“Passei a olhar para as mulheres como um objecto de prazer e reduzia-as apenas ao desejo que despertavam em mim”, conta.

Adolescentes produzem e vendem os seus vídeos pornográficos

Há ainda outro fenómeno alarmante associado ao contacto precoce com a pornografia na Internet. Há rapazes e raparigas, com idades entre os 12 e os 16 anos, que vendem online os seus próprios conteúdos sexuais, onde aparecem como protagonistas das cenas gravadas com os seus telemóveis.

“O fenómeno é muito recente, existem poucos casos identificados, mas causa-nos muita preocupação“, refere ao Expresso a inspectora-chefe Carla Costa da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime da Polícia Judiciária (PJ).

Estamos a falar, na maioria dos casos, de jovens da classe média que “vivem nas zonas metropolitanas das grandes cidades” e que estão “bem integrados na comunidade escolar“, como explica a inspectora. “São adolescentes normais, inseridos na sociedade”, refere.

As plataformas de jogos online e a darknet são utilizadas para trocar e armazenar estes conteúdos sexuais com menores. E os pagamentos são feitos por PayPal ou por MBWay.

Alguns destes casos, podem envolver adolescentes que já foram vítimas de “grooming”, ou seja, depois de terem sido aliciados ou chantageados por adultos com motivações sexuais.

pedófilos que se fazem passar por crianças, por exemplo em jogos online, para ganharem a confiança dos menores e levarem-nos a partilhar fotografias e vídeos íntimos. Depois disso, usam as imagens para os chantagear, ameaçando divulgá-las, e levando-os a fazer vídeos ainda mais explícitos.

ZAP //

2 Comments

  1. Identificam se como adultos e a seguir o exemplo das mulheres na OF… A nova geração criada por ideologia dos ateus e comunistas….

  2. É pena ninguém falar do fenómeno de sexualização de crianças que acontece tanto às mãos de alguns publicitários como de algumas mães que gostam de transformar as suas filhas crianças em objetos sexuais. No mundo do sexo ainda há muito por dizer…

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