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Pandemia, guerra e agora sismo: as imagens que as crianças vêem (e os traumas que se seguem)

Erdem Sahin / EPA

Os mais novos não devem ficar na ignorância; mas não devem ser surpreendidos por uma notícia num telejornal.

A COVID-19 trouxe incontáveis imagens de morte, problemas de saúde, problemas sociais, sofrimento, solidão, desespero.

A guerra na Ucrânia trouxe e traz incontáveis imagens de morte, feridos, destruição, desespero.

Os sismos na Turquia e na Síria está a repetir essas imagens trágicas, agora noutro contexto.

Sofia Ramalho, vice-presidente da Ordem dos Psicólogos, avisa que o grupo mais vulnerável neste contexto são as crianças até aos 12 anos de idade porque “não têm o seu pensamento totalmente desenvolvido e organizado, não conseguem ter a interpretação mais adequada“.

Na rádio Observador, a psicóloga comentou que é prioritário perceber os eventuais impactos das imagens no desenvolvimento das crianças e dos jovens, do seu raciocínio moral e do seu intelectual.

Além disso, “não podemos isolar esta exposição“. Ou seja, as imagens da guerra e da pandemia foram muito recentes, ou ainda estão a ser transmitidas. Os sismos mostram agora que há imagens potencialmente traumáticas, consoante o grau de proximidade de perdas de amigos ou familiares.

Ou seja, se quem está a ver perdeu alguém próximo nos dois contextos anteriores, agora está mais frágil e mais facilmente vai ceder psicologicamente.

Esta sequência deverá criar dois tipos de situações nas crianças.

A primeira é a habituação a estes conteúdos, é “normalizar o que não é normal, porque não é suposto que estas imagens façam parte do dia-a-dia de uma criança. Diminui o sentido crítico e os comportamentos podem mudar”.

Outros casos prováveis são os que revivem episódios traumáticos, “o que gera momentos de ansiedade e medo, medo da perda, e afecta as relações com outras pessoas”.

“A criança começa à procura de respostas que não encontra. Há vazios na sua cabeça, situações mal resolvidas”, alertou Sofia Ramalho.

Por isso, é preciso controlar. A psicóloga sugere um supervisionamento, um controlo mais apertado por parte dos pais, no acesso a estas imagens.

Sobretudo à noite, antes de a criança ir dormir. “São conteúdos que têm impacto na vida das crianças” e, por isso, “é necessário retirá-las dessa exposição, quando é possível, especialmente à noite”.

Obviamente quase todas as crianças acabam por se cruzar com o assunto, em conversas na escola, por exemplo; mas devem ser preparadas em casa para esse momento.

As crianças não devem ficar na ignorância mas não devem ser surpreendidas por uma notícia num telejornal.

Outros grupos vulneráveis são os das pessoas que têm proximidade com experiência semelhante, que passaram por algo parecido.

Ou então – e voltamos às crianças – naqueles que vêem alguém da mesma idade que não consegue sair dos escombros: é uma “maior solidariedade” que a criança sente.

O sofrimento aumenta porque “podia ser eu, ou um amigo meu, ali”.

ZAP //

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