Apesar de muitos acharem que é um sintoma de dislexia, a escrita espelhada é um fenómeno comum quando as crianças estão a aprender a escrever.
Se já viu uma criança escrever letras ou até mesmo palavras inteiras ao contrário, já presenciou um fenómeno conhecido como escrita espelhada. Embora possa causar preocupação aos pais, os especialistas afirmam que este comportamento é geralmente uma parte normal do desenvolvimento inicial da literacia e não indica necessariamente um distúrbio de aprendizagem como a dislexia.
De acordo com o programa Dyslexia Help da Universidade de Michigan, a inversão de letras e palavras é comum entre todas as crianças que estão a aprender a escrever. As crianças disléxicas podem enfrentar dificuldades em reconhecer e nomear letras rapidamente, mas a escrita espelhada por si só não é um sinal diagnóstico de dislexia. “Como muitas pessoas acreditam erradamente que a inversão de letras define a dislexia, as crianças que não fazem inversões de letras muitas vezes não são diagnosticadas”, observa o programa.
Até por volta dos 7 anos de idade, é comum as crianças inverterem letras como b, d, p, q e números como 5, 7 e 9, por vezes até produzindo frases inteiras ao contrário. Este comportamento é observado tanto em crianças destras como canhotas. Os investigadores propuseram diversas teorias para explicar por que razão isso acontece, enumera o IFLScience.
Uma teoria sugere que as crianças experimentam o que alguns chamam de “cegueira cerebral” em relação à orientação dos símbolos. Na natureza, a maioria dos objetos parece igual, independentemente da rotação ou do espelhamento — uma maçã permanece reconhecível, quer seja vista normalmente ou invertida. No entanto, as letras e os números são sensíveis à orientação, e este é um conceito que precisa de ser aprendido.
Um artigo de 2018 explica que a leitura é uma capacidade humana relativamente recente, baseada em sistemas de reconhecimento visual de objetos concebidos para identificar formas independentemente da sua orientação. Isto significa que as crianças precisam de se adaptar e retreinar os seus cérebros para reconhecer que letras como “b” e “d” não são intercambiáveis.
Outra teoria atribui o problema à forma como os hemisférios cerebrais comunicam. De acordo com o investigador Michael Corballis, cada hemisfério pode perceber corretamente um símbolo, mas a transferência desse símbolo entre hemisférios pode levar a uma representação invertida da memória.
Um terceiro modelo sugere que o problema está na memória e nas formas inerentes das letras. As crianças conseguem copiar os caracteres corretamente ao olhar para eles, mas esquecer a orientação ao escrever de memória. Algumas letras e números — especialmente os que estão viradas para a esquerda, como J, Z, 2 e 7 — são mais propensos à inversão.
Embora a causa exata ainda seja debatida, os especialistas sublinham que a inversão de letras é uma fase normal no desenvolvimento das competências de literacia. Com prática e experiência de leitura, a maioria das crianças supera naturalmente a escrita espelhada, à medida que aprende a interiorizar a orientação correta dos símbolos.