Uma disputa laboral em Kenema, cidade da Serra Leoa, criou uma situação de risco numa área afetada pelo vírus do Ébola.
Os coveiros da cidade recusaram-se a recolher os corpos de 15 vítimas no principal hospital da cidade. Os trabalhadores entraram em greve depois de a autarquia atrasar o pagamento de um adicional de insalubridade pelo transporte dos cadáveres infectados – o vírus é tão contagioso que mesmo depois de mortas suas vítimas ainda podem transmiti-lo.
Kenema é a terceira maior cidade da Serra Leoa – um dos países mais atingidos pelo surto, com mais de 1,2 mil mortes -, e fica justamente no leste, a região onde surgiram os primeiros casos de Ébola.
Verba “desaparecida”
Segundo as autoridades de Kenema, os coveiros foram despedidos depois de deixarem um corpo no escritório do administrador do hospital e dois na entrada do local.
Os trabalhadores disseram à BBC que não tinham recebido nos últimos dois meses a gratificação acordada pela atividade de risco.
Apesar de prometer uma investigação sobre a questão do pagamento, em especial porque a verba tinha sido transferida para as autoridades locais, o governo da Serra Leoa condenou a atitude dos coveiros.
“Eles não foram demitidos por causa da greve, mas por terem tratado os cadáveres de forma desumana”, afirmou Sidi Tunis, porta-voz do governo para questões ligadas ao Ébola, que também prometeu punir quem não pagou os coveiros.
O incidente em Kenema ocorreu duas semanas depois de outra greve em Serra Leoa: uma paralisação de enfermeiros na cidade de Bo, onde fica a única clínica que trata os infectados pelo vírus no sul do país.
De acordo com as recomendações de saúde, os cadáveres de vítimas de Ébola devem ser enterrados o mais rapidamente possível para diminuir os riscos de contágio. O vírus pode ser contraído através de contato com fluidos corporais, mesmo que de forma indireta – através de roupas, lençóis e superfícies infetadas, por exemplo.
Segundo balanço da Organização Mundial da Saúde, há até o momento 15,9 mil casos oficiais de Ébola na atual epidemia, com 5,6 mil mortes contabilizadas.
ZAP / BBC
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