“O Governador”: Costa queria tirar idoneidade a Salgado, mas foi impedido pelos juristas do BdP

José Sena Goulão / Lusa

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa

O novo livro sobre Carlos Costa alega que o governador queria tirar a idoneidade ao então presidente do BES, mas foi impedido. Costa também critica o trabalho do seu antecessor, Vítor Constâncio.

De acordo com as revelações feitas no livro “O Governador”, que relata vários acontecimentos dos dois mandatos de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal, o então governador queria tirar a idoneidade a Ricardo Salgado, mas foi impedido pelos juristas da instituição reguladora.

“Se pudesse, tinha-lhe retirado a idoneidade imediatamente”, diz Carlos Costa. O ex-governador diz ainda que a sua relação com Salgado foi atribulada desde o início e que o antigo presidente do BES “fazia sempre questão de mostrar a todos os seus interlocutores que sabia manejar como poucos as cordas do poder”.

Foi a jurisprudência que impediu Costa de afastar Salgado do Banco Espírito Santo mais cedo, de acordo com o livro, apesar de as suspeitas de gestão danosa já existirem ainda antes da chegada de Costa ao Banco de Portugal, escreve o Público.

O livro atira ainda farpas a Vítor Constâncio, antecessor de Costa, que “compactuou” com a “estrutura complexa (e opaca)” do Grupo Espírito Santo e respondeu ao caso com uma “quase total insensibilidade e passividade“. Como contraste, Costa criou uma “nova cultura de supervisão”.

Carlos Costa avança que a tensão com Salgado nasceu logo no início do seu mandato, quando chamou o então presidente do BES à sede do Banco de Portugal para falar sobre a supervisão da área financeira do GES.

“O dr. Salgado entrava no BdP com a postura de quem se tomava por um grande senhor. As primeiras reuniões ficam marcadas por uma atitude de grande sobranceria”, relata o livro.

Costa diz ainda que recebeu várias chamadas de membros do governo na altura, incluindo do gabinete de Sócrates e de Teixeira dos Santos, tendo respondido a todos que “estava apenas a assegurar a observância da lei”.

O caso que motivou as primeiras discussões sobre a retirada da idoneidade a Salgado data de janeiro de 2013, quando foi noticiado que tinha recorrido ao Regime Excepcional de Regularização Tributária (RERT) para regularizar 8,5 milhões de euros que tinha recebido a título de consultadoria prestada em Angola.

Salgado só saiu do BES em junho de 2014, sob grande pressão do Banco de Portugal, mas nunca perdeu a idoneidade, mesmo após o seu afastamento.

ZAP //

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