A campanha socialista começou nos Açores, com António Costa a apontar o atual Governo açoriano como exemplo do que não quer para Portugal.
Nas últimas eleições regionais, o PSD conseguiu chegar ao Governo com o CDS-PP e o PPM e com os acordos de incidência parlamentar com o Chega e o Iniciativa Liberal.
A estratégia de António Costa, na primeira ação de campanha para estas legislativas, era portanto clara: além de vincar as diferenças entre a esquerda e a direita, dedicou-se a apontar a coligação do Governo regional açoriano como a “vacina” para impedir “uma vitória de toda a direita”.
“Estando aqui nos Açores, quero recordar que, quando o PS não tem maioria, apesar de ter ganho, no dia seguinte acordam com um Governo de toda a direita unida e nem sequer a extrema-direita do Chega ficou de fora do acordo parlamentar que viabilizou o Governo [Regional dos Açores] do PSD”, afirmou, num discurso em Vila Franca do Campo.
O secretário-geral socialista espera assim que a experiência das eleições regionais de 2020 nos Açores “tenha sido uma vacina para todo o país“, de modo a que “todo o país se mobilize para uma vitória do PS” que impeça “uma vitória de toda a direita, incluindo da extrema-direita”, no dia 30.
“Portugal precisa de estabilidade e os portugueses merecem tranquilidade. Que ninguém deixe de votar, para garantir a estabilidade de que o país necessita e a maioria do PS para ter estabilidade durante quatro anos”, defendeu.
“Só votando é que garantimos estabilidade e a maioria do PS, sem a qual não há estabilidade no país. Todos às urnas para uma grande vitória e para uma maioria do PS”, acrescentou Costa.
Sem rodeios, foi Francisco César, o cabeça de lista pelos Açores, a pedir a maioria absoluta que os socialistas tanto querem mas insistem em não pedir – pelo menos, com as palavras todas.
“É necessária a maioria absoluta que pedimos para ter a estabilidade que o país precisa”, salientou o candidato, que discursou antes do líder.
Críticas a Rio
Vasco Cordeiro, líder do PS/Açores, disse não ter razão “para esconder o candidato socialista a primeiro-ministro” e manifestou não ter surpresa pela “omissão de Rui Rio” no arquipélago, pois “noutras eleições disse que os Açores não eram fortuna nenhuma [em termos de votos]”.
Sem mencionar o nome do presidente social-democrata, Costa acompanhou as críticas do líder do PS/Açores sobre a ausência prevista de Rio na região autónoma durante a campanha eleitoral.
“Para quem quer ser primeiro-ministro de todos os portugueses e portuguesas, não é possível uma campanha nacional para a Assembleia da República que não venha aos Açores. Os Açores são Portugal e fazem de Portugal um país atlântico”, atirou Costa.
No palco açoriano, o atual primeiro-ministro voltou a insistir na necessidade de se aprovar um Orçamento do Estado. “Não podemos perder este ano em regime de duodécimos, precisamos com urgência do Orçamento aprovado”, sublinhou Costa, que pisca o olho à maioria absoluta para poder aprovar o documento de imediato.
Neste sentido, apontou baterias ao seu maior adversário e, munido de medidas como a reforma da Justiça, acusou o PSD de Rui Rio de querer “assegurar o controlo político sobre a autonomia do Ministério Público” e de haver falta de vontade quanto ao aumento dos salários.
“Não é tempo para aventuras, mas também não é tempo para adiar subida de salário mínimo nacional ou congelar a descida do IRS. Quem não quer subir o salário mínimo, muito menos vai querer subir salários médios”, referiu o socialista, num ataque direto aos sociais-democratas.
“Sim precisamos de um primeiro-ministro responsável e cooperante com os Açores e esse primeiro-ministro é António Costa”, salientou Francisco César.
Com o primeiro dia de campanha eleitoral passado nos Açores e no concelho que, em 2019, foi o mais abstencionista do país, António Costa apelou ao voto com o exemplo das legislativas regionais de 2020, que retiraram ao PS o poder nos Açores após mais de 20 anos de maioria, como pano de fundo.
Recorde-se que, naquele sufrágio, o Partido Socialista perdeu a maioria absoluta, elegendo 25 dos 57 deputados do Parlamento açoriano, e o PSD subiu ao poder, após uma coligação com o CDS e o PPM, além de acordos parlamentares com o Chega e a Iniciativa Liberal.
Liliana Malainho, ZAP // Lusa