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Não, o nosso corpo não é o carregador perfeito para telemóveis

A versão do pai dos telemóveis é uma “história bonita que não passa disso mesmo”. Pelo menos, para já. Entrevista ZAP a um especialista.

Marty Cooper afirmou na semana passada, durante o Congresso Mundial de Telemóveis, que a melhor forma de carregar um smartphone será através do corpo humano.

“A próxima geração terá o telemóvel embutido debaixo da pele dos ouvidos”, acrescentando: “O corpo é o carregador perfeito. Quando comemos, o nosso corpo cria energia, certo?”, lembrou.

Esta sugestão de o corpo humano carregar um telemóvel terá surpreendido muitos leitores – mas não surpreendeu muitos especialistas.

Há anos que se aborda a possibilidade de um smartphone ser carregado pelo próprio dedo humano, enquanto estamos a escrever algo, ou a deslizar em páginas da internet.

Mas… “É uma história bonita que não passa disso mesmo, pelo menos nas próximas décadas”.

O aviso é de Sérgio Gonçalves, em entrevista ao ZAP: “Soa muito bem carregar o telemóvel no corpo; e eu já acreditei muito nessa ideia e até já a vendi – mas à medida que tenho aprofundado a minha investigação, tenho tido noção da enorme dificuldade que isso representa. E essa energia que é aplicada no telemóvel é energia que a pessoa perde, logo fica mais cansada”.

“E depois temos de ter em atenção a eficiência da conversão: a pessoa tem de produzir bastante mais energia do que a que o telemóvel recebe”, continua o doutorado em engenharia electrónica.

Sérgio lembrou que os telemóveis têm aumentado a capacidade de processamento. Chegam a uma capacidade tal, que não se compara com os anteriores – logo é necessária mais energia do que antes, para os smartphones actuais.

“Os programadores normalmente são pagos para desenvolverem as funcionalidades da aplicação, não para reduzirem o consumo energético”, salientou o especialista.

E, por outro lado, os sistemas operativos Android e iOS não tendem a dar o melhor tipo de uso à autonomia da bateria. “E pior ainda, às aplicações desenvolvidas por terceiros”, avisou.

O tipo de comunicação de dados também é relevante: “Está-se a valorizar a velocidade de transmissão e não a redução de energia. É a consequência de termos passado do 2G para o 3G, e 4G e agora 5G. Aumenta-se a velocidade de transmissão de dados ao custo do maior consumo energético”.

Sérgio Gonçalves acredita que, “um dia”, o corpo humano vai poder carregar o telemóvel. Mas não será na próxima geração de telemóveis, tal como como Marty Cooper disse.

“Principalmente quando vemos as empresas a dar dois ou três dias de autonomia aos telemóveis novos, na premissa que os utilizadores os carreguem todos os dias, contribuindo largamente para a viciação da bateria. E depois têm de comprar outro mais rapidamente, em vez de apostarem na eficiência energética do telemóvel – coisa que ainda há uma década tínhamos, nos telemóveis da Nokia, dando facilmente para um mês de autonomia”, finalizou.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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