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Uma startup britânica está a produzir corantes feitos por bactérias e leveduras em vez de produtos químicos derivados de combustíveis fósseis, o que poderá ajudar os fabricantes de vestuário a reduzir o consumo de energia e a poluição.
A cor das nossas roupas tem muitas consequências ambientais graves, desde a utilização de subprodutos de combustíveis fósseis para o fabrico de corantes até à água altamente poluída deixada após o tingimento.
Mas, segundo o New Scientist, a Colorifix, uma empresa sediada no Reino Unido, afirma que pode reduzir significativamente estes impactos utilizando micróbios, tanto para fabricar as tintas como para ajudar a fixá-las nos tecidos.
“Temos tido um interesse considerável nesta área, porque os consumidores estão realmente a começar a pensar no que vestem e na forma como isso prejudica o ambiente”, afirma Jim Ajioka, diretor científico.
Em 2013, Ajioka estava a estudar formas de monitorizar a poluição da água com outro investigador, Orr Yarkoni. Quando a dupla se apercebeu de que grande parte da poluição da água no Nepal e no Bangladesh provinha do tingimento de têxteis, começaram a pensar na forma de a reduzir.
A sua solução consiste em utilizar bactérias ou leveduras geneticamente modificadas para “cultivar” os corantes, em vez de os fabricar a partir de produtos químicos derivados de combustíveis fósseis.
Algumas das cores produzidas pelos micróbios modificados são pigmentos há muito utilizados em tinturaria, como o índigo que dá cor à ganga. Outros são novos corantes nunca antes utilizados, como um pigmento avermelhado encontrado num bolor que pode crescer nos duches.
Quando os têxteis são colocados nas cubas onde os micróbios estão a crescer, as células fixam-se às fibras, o que significa que estão a produzir o corante exatamente onde é necessário, diz Ajioka. “Eles gostam de ir para as superfícies. É uma vantagem real que temos”.
De facto, os micróbios trabalham naturalmente no interior das fibras. No tingimento convencional, os tecidos têm de ser aquecidos até 130ºC para abrir as fibras e permitir que os corantes entrem nelas. “Desperdiça-se muita energia ao atingir estas temperaturas muito elevadas para abrir as fibras”, afirma Ajioka.
O processo Colorifix envolve aquecimento para abrir os micróbios e libertar os corantes que produziram, mas não a temperaturas tão elevadas.
O tingimento convencional também envolve a adição de químicos conhecidos como mordentes que ajudam a fixar as cores nas fibras. O crómio é muito utilizado, mas é altamente tóxico.
O sódio, o potássio e o magnésio também podem ser usados como mordentes, diz Ajioka, e encontram-se naturalmente nas células. Assim, os micróbios também fornecem os mordentes quando se abrem.
A fase final do tingimento é a lavagem do excesso de corante que, normalmente requer várias lavagens. Mas como os micróbios libertam os corantes diretamente para o tecido, o excesso é muito menor e só é necessária uma única lavagem, diz Ajioka.
De acordo com a empresa, o processo utiliza cerca de metade da energia e um quarto da água, sendo que o líquido restante contém apenas substâncias biodegradáveis. As autoridades responsáveis pela água em Cambridge autorizaram a empresa a colocar o produto diretamente nos esgotos depois de o terem testado, diz Ajioka.
A única desvantagem é que os micróbios são alimentados com nutrientes derivados da soja, o que pode levar a um aumento da área de terra cultivada e, consequentemente, a mais desflorestação e emissões de carbono.
No entanto, é provável que o impacto seja diminuto em comparação com, por exemplo, a produção de combustível para aviões a partir de óleo de palma.
“Esta tecnologia inovadora de tingimento à base de micróbios oferece vantagens ambientais significativas, como a redução da necessidade de grandes quantidades de água e de produtos químicos nocivos que são normalmente necessários para a extração de pigmentos e aplicação de corantes”, afirma Suraj Sharma, da Universidade da Geórgia, nos EUA, que não tem ligações à empresa.
A Colorifix já tingiu pequenas quantidades de vestuário vendido em conjunto com a H&M no Reino Unido. Mas o plano de negócios é licenciar os micróbios, o equipamento de cultivo e o know-how a empresas de tingimento existentes. “Estamos agora a criar uma empresa na Índia”, diz Ajioka.
A empresa é uma das várias que têm como objetivo tornar a indústria de tinturaria mais ecológica. Pelo menos, três — Alchemie, Imogo e NTX — desenvolveram processos que se assemelham mais à impressão do que à tinturaria convencional. A equipa de Sharma, por sua vez, criou uma forma de tingir ganga que envolve a ligação do índigo a nanofibras de celulose que depois se ligam ao algodão.
Todos alegam grandes reduções na utilização de água e energia, mas, ao contrário do Colorifix, estes processos continuam a depender de corantes fabricados convencionalmente.
Quantificar os benefícios ambientais de fazer com que os micróbios produzam tintas é praticamente impossível, diz Ajioka. “Nunca vamos conseguir obter métricas de um fabricante de corantes, porque as cadeias de abastecimento de qualquer processo petroquímico são muito complexas”.