“Cópias” da Via Láctea encontradas no Universo primitivo

Jingyi Zhang / NASA

Teoria da evolução cósmica rescreve-se com nova descoberta: as galáxias do início do nosso Universo são, afinal, muito semelhantes à nossa.

De acordo com uma nova investigação publicada na passada sexta-feira no arXiv, as galáxias dos primórdios do Universo são mais parecidas com a nossa Via Láctea do que se pensava, alterando toda a narrativa da teoria da evolução cósmica.

Utilizando o Telescópio Espacial James Webb (JWST), uma equipa internacional de investigadores, incluindo investigadores da Universidade de Manchester e da Universidade de Victoria, no Canadá, descobriu que galáxias como a nossa Via Láctea dominam o Universo e são surpreendentemente comuns.

Estas galáxias remontam a um passado longínquo na história do Universo, com muitas delas a formarem-se há 10 mil milhões de anos ou mais.

A Via Láctea é uma galáxia típica de “disco”, com uma forma semelhante a uma panqueca ou a um CD, girando em torno do seu centro e contendo frequentemente braços em espiral. Pensa-se que estas galáxias são as mais comuns no Universo próximo e podem ser o tipo de galáxias onde a vida se pode desenvolver, dada a natureza da sua história de formação.

No entanto, os astrónomos consideravam anteriormente que estas galáxias eram demasiado frágeis para existir no Universo primitivo, quando as fusões de galáxias eram mais comuns, destruindo o que pensávamos ser as suas formas delicadas.

A nova descoberta conclui que estas galáxias de “disco” são dez vezes mais comuns do que os astrónomos pensavam com base em observações anteriores do Telescópio Espacial Hubble.

Imagens, obtidas pelo Telescópio Espacial James Webb, das recém-descobertas galáxias semelhantes à Via Láctea observadas no Universo primitivo. Cada linha mostra uma galáxia diferente, observada nos comprimentos de onda infravermelhos a que o JWST obtém dados de imagem.

“Recorrendo ao Telescópio Espacial Hubble, pensámos que as galáxias de disco eram quase inexistentes até o Universo ter cerca de seis mil milhões de anos, mas estes novos resultados do JWST empurram o momento da formação destas galáxias semelhantes à Via Láctea até quase ao início do Universo“, afirmou o professor de Astronomia Extragaláctica na Universidade de Manchester, Christopher Conselice.

A investigação altera completamente o entendimento existente sobre a forma como os cientistas pensam que o nosso Universo evolui. É necessário começar a considerar novas ideias.

“Durante mais de 30 anos pensou-se que estas galáxias em disco eram raras no Universo primitivo devido aos encontros violentos comuns a que as galáxias estão sujeitas. O facto de o JWST ter encontrado tantas é mais um sinal do poder deste instrumento e de que as estruturas das galáxias se formam mais cedo no Universo, muito mais cedo, de facto, do que alguém tinha previsto”, afirmou o autor principal, Leonardo Ferreira, da Universidade de Victoria.

Pensava-se que as galáxias em disco, como a Via Láctea, eram relativamente raras ao longo da história cósmica e que só se formavam depois do Universo já ter atingido a meia-idade.

Anteriormente, os astrónomos que utilizavam o Telescópio Espacial Hubble pensavam que as galáxias tinham sobretudo estruturas irregulares e peculiares que se assemelhavam a fusões. No entanto, as capacidades superiores do JWST permitem-nos agora ver a verdadeira estrutura destas galáxias pela primeira vez.

Os investigadores afirmam que este é mais um sinal de que a “estrutura” do Universo se forma muito mais rapidamente do que se previa.

“Estes resultados do JWST mostram que as galáxias em disco, como a nossa Via Láctea, são o tipo de galáxia mais comum no Universo. Isto implica que a maioria das estrelas existe e se forma no interior destas galáxias, o que está a mudar a nossa compreensão completa de como a formação das galáxias ocorre”, disse Conselice.

“Estes resultados também sugerem questões importantes sobre a matéria escura no Universo primitivo, sobre a qual sabemos muito pouco”, continua.

“Com base nos nossos resultados, os astrónomos têm de repensar a compreensão da formação das primeiras galáxias e de como a evolução das galáxias ocorreu nos últimos 10 mil milhões de anos”, remata.

// CCVAlg

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