Banco foi aos cofres pegar em provisões para apresentar resultados nulos. Já usou mais de um quarto da sua “almofada muito significativa”.
Em 2023, o Banco de Portugal (BdP) apresentou um prejuízo operacional de 1.054 milhões de euros, que o governador da instituição apelidou de “historicamente elevado”.
O governador Mário Centeno apontou que os resultados do banco central têm sido, nos últimos anos, “moldados pelas decisões de política monetária“, tendo refletido, em 2023, uma redução do balanço.
“Os resultados do último ano (…) têm subjacente uma redução do balanço. O balanço reduz 13 mil milhões de euros, explicado, essencialmente, pelo financiamento às instituições de crédito e pela redução dos títulos de política monetária”, apontou Mário Centeno na apresentação do relatório do Conselho de Administração do banco central.
Apesar do prejuízo operacional de 1.054 milhões de euros, Centeno apresentou resultados nulos em termos líquidos, tendo o banco central recorrido a uma movimentação de provisões.
Ou seja, o Banco de Portugal utilizou o dinheiro que tinha de lado para impedir prejuízos líquidos no ano passado. Ainda ficou com quase 2.9 mil milhões de euros guardados para evitar prejuízos nos próximos anos (prováveis até 2026), salienta o Expresso.
Mas com esta utilização, o Banco de Portugal já utilizou mais de 25% das provisões que servem para evitar resultados líquidos negativos, contabiliza o Público.
“As provisões que o banco tem são uma almofada muito significativa, criada ao longo do tempo, para fazer face, precisamente, a este momento, em que hoje nos encontramos”, assegurou Mário Centeno.
Com a movimentação de 1.054 milhões de euros, a Provisão para Riscos Gerais desceu, no final de 2023, para 2.858 milhões de euros, onde não estão incluídas “outras reservas e capital que o banco tem, um valor próximo de 2.000 milhões de euros”.
Assim, Mário Centeno defendeu que as provisões constituídas são suficientes para responder às projeções que podem ser feitas à luz da evolução das taxas de juro diretoras do Banco Central Europeu (BCE).
“Nós esperamos que as provisões sejam suficientes para fazer face a este ciclo de política monetária”, registou.
Um dos pontos destacados por Mário Centeno foram os gastos com os edifícios do Banco de Portugal, que exigem custos acrescidos, incluindo com segurança. Nesse sentido, apontou que o banco central está “a trabalhar numa lógica de redução dos custos” e de centralização das suas instalações, que estão dispersas pela cidade de Lisboa. Ainda assim, remeteu mais detalhes para 2025.
De acordo com o relatório do Conselho de Administração de 2023, a quantidade de ouro detida pelo banco manteve-se em 382,6 toneladas, mas valorizou-se em 9,3%, para 19.940 milhões de euros.
Presente na apresentação, o administrador Hélder Rosalino, apontou que o ouro, considerado um ativo de reserva, funciona como um ‘buffer’ e que no final de abril “ainda se valorizou mais”.
“O valor atual é de 26 mil milhões de euros. Portanto, temos neste momento uma valorização potencial do ouro, significa que há uma reserva de reavaliação, mas, naturalmente, o banco não tem qualquer intenção de fazer alienações de ouro”, explicou.
Espanto porquê?
Este prejuízo operacional de 1.054 milhões de euros já era esperado. Mas Joaquim Miranda Sarmento tinha demonstrado “surpresa, espanto e preocupação” quando há um mês falou sobre os resultados negativos do banco.
Mário Centeno não entende essa reação: “Obviamente que falei com o anterior (Fernando Medina) e com o atual ministro das Finanças (Miranda Sarmento(” – mas não ficou claro se essa conversa aconteceu depois das palavras do atual ministro.
“O único detentor do capital [do supervisor] é o Estado, apresenta as contas ao Ministério das Finanças dentro dos prazos legais, fê-lo desta vez, também, portanto não houve nenhuma descontinuidade na normalidade institucional”, continuou.
“Sempre foi tornado público, bastante público, a evolução destas dimensões no Banco de Portugal. (…) Preparámo-nos para este momento que sabíamos que ia acontecer“, declarou o governador do BdP.
Por toda a Europa, os bancos centrais estão a apresentar prejuízos operacionais neste ano.
Em 2022 o Banco de Portugal tinha registado um lucro de 297 milhões de euros.
ZAP // Lusa