“Haverá consequências”. Biden ameaça a Arábia Saudita após corte na produção de petróleo

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Oliver Contreras / Pool / EPA

O Presidente dos Estados Unidos está a ponderar cortar as relações com a Arábia Saudita e pôr fim a uma aliança com mais de 75 anos. O retiro das tropas americanas ou o fim de venda de armas são medidas em cima da mesa.

Joe Biden não está nada feliz com a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) de cortar a produção de petróleo, o que na práctica resulta num apoio indirecto à Rússia.

Haverá consequências daquilo que fizeram, com a Rússia. Não vou dar detalhes sobre o que estou a considerar e tenho em mente. Mas haverá — haverá consequências”, afirmou o Presidente dos Estados Unidos em entrevista à CNN.

Os comentários de Biden assinalam assim o fim do período de lua-de-mel que Washington e Riade viveram nos últimos meses, tendo o chefe de Estado americano até visitado o país em Julho com o intuito de negociar um aumento na produção de petróleo, tendo em vista uma redução nos preços e um alívio na crise energética.

Na altura, Biden foi bastante criticado por ter quebrado a promessa eleitoral de arrefecer as relações entre os EUA e a Arábia Saudita, tendo repetido durante a campanha que iria fazer uma “pária” do velho aliado devido às violações dos direitos humanos de Riade, especialmente após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

No entanto, os esforços de Biden para tentar conter a escalada de preços da energia de nada valeram, com a OPEP a anunciar na semana passada que ia cortar a produção de petróleo em dois milhões de barris por dia — o maior corte desde o início da pandemia e equivalente a 2% do abastecimento mundial.

A Casa Branca já tinha mostrado o seu descontentamento com a decisão da OPEP, tendo a porta-voz Karine Jean-Pierre acusado a organização de se aliar a Putin ao manter propositadamente os preços altos, criando mais pressão sobre as economias ocidentais que boicotaram o petróleo e gás russos.

De acordo com vários analistas, o corte da OPEP é uma retaliação contra a criação de tectos máximos nos preços da energia, uma medida que vários países, incluindo Portugal, estão a impor para conter a inflação.

Os membros da organização temem que estes limites, que estão agora a ser criados numa tentativa de se diminuir a influência da Rússia no mercado energético, possam vir a ser usados contra si no futuro.

O conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, e o director do Conselho Económico Nacional, Brian Deese, também afirmaram que Biden estava “desiludido” com a “decisão míope da OPEP”.

O chefe de Estado também ia falar com o Congresso sobre medidas que poderiam ser adoptadas tendo em vista a redução do poder do grupo sobre o mercado petrolífero, como o fim da isenção de que a OPEP beneficia que lhe permite coordenar os preços e passar por cima das leis anti-cartel do mercado livre.

“Reversão dramática” nas relações

Aliados no ramo energético há mais de 75 anos, Washington e Riade estão agora a entrar numa rota de colisão que também pode redefinir as suas relações diplomáticas e de segurança.

No mesmo dia da entrevista de Biden, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, adiantou que o Presidente está a “rever as relações bilaterais com a Arábia Saudita” e analisar se a aliança está a “servir os nossos interesses de segurança nacional”.

Kirby afirmou ainda que Biden está a falar com as chefias Democratas no Congresso que querem que os Estados Unidos cortem as relações com o reino saudita, especialmente quando as intercalares de Novembro estão à porta e os preços dos combustíveis estão entre as principais preocupações dos eleitores.

O congressista Democrata Tom Malinowski também vai introduzir uma lei onde pede à Casa Branca que retire as tropas americanas e os seus sistemas de defesa contra mísseis da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos.

Já o presidente do comité das relações internacionais do Senado, o Democrata Robert Menendez, vai mais longe e ameaça congelar as vendas de armas e cooperação no ramo da segurança com a Arábia Saudita, acusando o príncipe Mohammed bin Salman de “subscrever à guerra de Putin através do cartel da OPEP”.

“Não há espaço para se estar de ambos os lados neste conflito. Não vou dar luz verde a qualquer cooperação com Riade até o reino reavaliar a sua posição sobre a guerra na Ucrânia. Já chega“, afirmou Menendez.

De acordo com Bruce Riedel, especialista na Arábia Saudita e ex-analista da CIA, a postura da Casa Branca sinaliza uma “reversão dramática” nas relações diplomáticas com os velhos aliados sauditas.

“Passamos de conversar com o príncipe a torná-lo outra vez uma pária. Acho que a pressão dentro do Partido Democrata é enorme. A administração terá de dar alguns passos, como reduzir o número de forças americanas. Os media, os círculos eleitorais que interessam aos Democratas estão a exigir uma resposta“, prevê Riedel.

Adriana Peixoto, ZAP //

4 Comments

  1. Nós, na Aliança Ocidental, só gritamos ‘BATOTA’ quando são os outros a fazê-la.
    Quando somos nós a fazer,…é para o ‘Bem Maior’.
    O problema é que é o NOSSO ‘Bem Maior’. O que, não nos surpreende, não tem o acordo de todos…

    • Vá perguntar às mulheres iranianas, aos famintos venezuelanos, aos russos recrutados para a guerra que fugiram do país, ao povo da Coreia ou aos muitos chineses oprimidos se partilham a sua ideia.

  2. Não há pudim para a Arábia Saudita!!! Acabou.se!!!

    Num tom mais sério. Aí está uma boa maneira de perder amigos e alienar aliados.

    Os sauditas devem estar a tremer em cima das sandálias! Apesar de serem o que são há que reconhecer que têm uma espinha dorsal mais direita que qualquer líder europeu e sabem reconhecer de que lado do pão é que está a manteiga!

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