Amizade improvável entre anfíbio e um mamífero na Grande Morte: ficaram para sempre juntos numa pequena toca, na África do Sul, que foi descoberta há 50 anos. Momento eternizado ficou para a história como “O Aconchego Triássico”.
Há 250 milhões de anos, em plena Grande Morte, um momento único de partilha foi eternizado.
Descobrimo-lo em 1975 — ou melhor, o paleontólogo James Kitching descobriu-o — quando uma toca fossilizada foi desenterrada perto da base do desfiladeiro de Oliviershoek, na África do Sul.
Se inicialmente só se via a cabeça de um Thrinaxodon — um pequeno réptil semelhante a um mamífero — um exame mais minucioso revelou uma presença inesperada na pequena toca: um anfíbio raro, conhecido como Broomistega. Fossilizaram em contacto próximo, num repouso eterno que viria a ser conhecido como “The Triassic Cuddle” (“O Abraço/Aconchego Triássico”).
O Thrinaxodon ficou para sempre enrolado na forma típica de uma toca, enquanto o Broomistega ficou deitado de barriga para cima sobre o mamífero.
Mas como é que esta amizade tão improvável sequer aconteceu?
Os cientistas queriam responder a esta pergunta e especularam que o anfíbio, parecido com uma salamandra, e o principal ocupante da toca — o mamífero — teria sido enterrado pela lama. Mas era muita coincidência, a lama escorrer e levar um anfíbio para a toca do mamífero.
Olhando para o ponto de situação, a posição de”conchinha” não foi acidental. O anfíbio poderia na verdade ter sido arrastado para a toca pelo outro animal, maior e mais forte, mas o estado dos ossos e a orientação do fóssil sugeriam o contrário.
O Broomistega apresentava sinais de ferimentos sarados, incluindo costelas partidas, mas não correspondiam aos dentes daquele a quem ficou agarrado para sempre, lembra o National Geographic.
Restava uma hipótese: o anfíbio entrou propositadamente no refúgio subterrâneo num sinal de desespero, durante a dura estação seca da “Grande Morte”, a extinção mais devastadora do planeta Terra, que dizimou cerca de 90% das espécies marinhas e 70% da vida terrestre.
O Thrinaxodon, possivelmente num estado de sono profundo, pode não ter notado ou simplesmente não se incomodou com o hóspede não convidado.
Amor ou não, o que é certo é que os dois animais acabaram por ser sepultados juntos por um súbito fluxo de lama e outros sedimentos.