A investigadora portuguesa Ana Filipa Cardoso foi reconhecida Prémio Eppendorf & Science na área de neurobiologia por um trabalho que abre caminho a novas abordagens no combate à obesidade.
O trabalho da investigadora da Fundação Champalimaud foi reconhecido pelo Prémio Eppendorf & Science – Neurobiologia, anunciou a fundação esta sexta-feira.
Este prémio internacional, criado em 2002, atribui anualmente 25.000 dólares a jovens cientistas que têm contribuído para a compreensão do cérebro e do sistema nervoso. Ana Filipa Cardoso é finalista da edição de 2022 do prémio.
O ensaio onde descreve o trabalho foi publicado esta sexta-feira na revista Science, juntamente com os ensaios do outro finalista e do vencedor do grande prémio.
Depois de se licenciar em Bioquímica e concluir o mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade do Minho, durante o qual entrou no campo da imunologia, Ana Filipa Cardoso iniciou doutoramento na Fundação Champalimaud para estudar o papel das interações neuro-imunes no metabolismo.
O seu estudo em ratinhos revelou como os sinais do cérebro queimam gordura do ventre, também conhecida como gordura “visceral”.
A gordura visceral contém não só células gordas, mas também fibras nervosas e outros tipos de células, incluindo células imunitárias, que promovem o metabolismo das gorduras.
Ana Filipa Cardoso descobriu que as células nervosas enviam um comando de que induz estas células imunitárias a “queimar gordura”, através de um mediador inesperado – as células estaminais mesenquimais, que até há pouco tempo eram essencialmente ignoradas.
Além disso, depois de uma série de meticulosas experiências, Ana Filipa Cardoso conseguiu identificar de onde surgia o comando de queima de gordura: uma estrutura enterrada nas profundezas do cérebro chamada hipotálamo, que controla muitas funções corporais críticas, da fome e sede à temperatura corporal e sono.
O excesso de gordura visceral é a forma mais perigosa de obesidade, e tem sido associado a vários tipos de cancro e a doenças cardiovasculares.
As descobertas de Ana Filipa Cardoso permitem uma maior compreensão sobre os mecanismos naturais do cérebro-corpo que reduzem a gordura visceral, e abrem potenciais abordagens terapêuticas para a manipulação artificial deste circuito de queima de gordura para diminuir as reservas de gordura.
Com base neste novo conhecimento de como os sistemas nervosos e imunitários interagem para controlar o tecido adiposo, Ana Filipa Cardoso está agora a investigar as suas possíveis aplicações clínicas e combater a crescente prevalência da obesidade e de doenças relacionadas.