A forma como surgiu a reprodução sexuada tem sido um mistério. Agora, um modelo evolutivo sugere que poderá ter ‘nascido’ graças à fusão de células ‘esfomeadas’, para aumentar as suas reservas alimentares.
“Onde é que surgiu, pela primeira vez, a reprodução sexuada?” Esta é uma questão que intrigou, desde sempre, os cientistas e para a qual nunca houve uma resposta concreta.
No entanto, um estudo publicado agora na bioRxiv apresentou um modelo evolutivo que sugere que o sexo surgiu como uma forma de duas células unirem os seus recursos.
Como escreve a New Scientist, embora a reprodução sexuada tenha uma série de desvantagens em comparação com a reprodução assexuada – como a necessidade de encontrar um parceiro – a longo prazo, as espécies que podem misturar os seus genomas têm uma grande vantagem. Alguns descendentes acabam por ter mais mutações benéficas do que qualquer um dos progenitores, enquanto outros acabam por ter mutações mais prejudiciais e são eliminados.
No entanto, as vantagens da reprodução sexuada não explicam como é que evoluiu. Um ponto de discórdia é que a reprodução sexuada requer a fusão de células, mas “porque é que as células se iriam fundir antes de terem desenvolvido a capacidade de combinar os seus genomas?”, questionam os investigadores.
Para responder a estas questões, o novo estudo analisou as células complexas unicelulares – os primeiros organismos a desenvolver a reprodução sexuada.
Nasceu pela fusão de células esfomeadas
A reprodução sexuada evoluiu quase ao mesmo tempo do aparecimento das primeiras células complexas. Para estas células, este tipo de reprodução é geralmente opcional e ocorre quando o ambiente deixa de ser favorável. Nessa altura, as células formam frequentemente uma fase dormente, como um esporo.
Além disso, como nota a New Scientist, enquanto nos animais o sexo envolve a fusão de espermatozóides minúsculos com óvulos muito maiores, nos organismos unicelulares envolve duas células de tamanhos semelhantes. Isto significa que a fusão das células cria uma célula maior.
Este facto levou o biólogo evolucionista Thomas Cavalier-Smith a sugerir que as células maiores criadas pela fusão teriam mais probabilidades de sobreviver em tempos difíceis devido às suas maiores reservas de alimentos.
“O modelo matemático corrobora este facto”, anunciou George Constable da Universidade de York, Reino Unido, citado pela New Scientist,
No novo modelo, as células pequenas que prosperavam num ambiente benigno foram transferidas para um ambiente hostil, onde as células maiores tinham vantagem de sobrevivência.
De acordo com o estudo, que ainda tem de ser revisto por pares, a evolução da fusão celular foi favorecida mesmo que até 86% das células que tentam fundir-se morram.