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Como a “esponjosa” Cidade dos Anjos se tornou campeã de chupar água

Três dias de muita chuva trouxeram água suficiente para abastecer 106 mil agregados familiares durante um ano. Com “mil curativos”, a esponja de LA está a cumprir a sua missão.

Algo inédito aconteceu este mês na mítica cidade de Los Angeles, nos EUA.

A famosa “Cidade dos Anjos” foi atingida por um rio atmosférico que trouxe 23 centímetros de chuva durante três dias, ao qual conseguiu responder graças ao modelo de “cidade esponja” que implementou em resposta aos desafios impostos pelas alterações climáticas e pela gestão da água urbana.

Tradicionalmente dependente do degelo e da água dos rios transportada de grandes distâncias, LA tem hoje uma missão: produzir o máximo de água possível, focando-se em maximizar as fontes de água locais.

Para tal, investiu em grande em superfícies permeáveis e áreas de infiltração, que permitiram, entre os dias 4 e 7 de fevereiro, a absorção e armazenamento de 32,6 mil milhões de litros de água pluvial — o suficiente para fornecer água a 106 mil agregados familiares durante um ano, segundo contas feitas pelo Wired.

“Cidade esponja”

Afastando-se totalmente das normas centenárias de planeamento urbano, que priorizam a remoção rápida da água da chuva para prevenir inundações, o conceito de “cidade esponja” — já proposto, em 2022, pelo Bloco de Esquerda para efetuar a drenagem de Lisboa — encara toda a água pluvial como um recurso valioso.

A integração de espaços verdes, jardins ou pavimentos permeáveis, construídos com vista a formar tanques subterrâneos naturais capazes de armazenar volumes significativos de água, permite melhorar a recarga de águas subterrâneas e reduzir as inundações urbanas.

Estas estratégias de reciclagem hídrica não só ajudam a derrotar a escassez de água, como também mitigam os efeitos das ilhas de calor urbanas, melhoram a qualidade do ar e, de certa forma, promovem a saúde mental e física dos residentes através do aumento dos espaços verdes.

“Quanto mais árvores, mais sombra, menos efeito de ilha de calor”, explica à revista o gerente de bacias hidrográficas do Departamento de Água e Energia de Los Angeles, Art Castro.

A cidade também se aproveita das grandes tempestades para recolher a água nas barragens, algumas das quais desviadas propositadamente para as áreas de infiltração.

“Depois da tempestade passar, e chegar um dia de sol brilhante, ainda se vê água a ser libertada num canal e desviada para as áreas de infiltração”, confessa Castro.

A água passa, assim, de um reservatório onde está exposta à luz solar e, consequentemente, à evaporação, para um aquífero onde é armazenada em segurança, no subsolo.

“O problema da hidrologia urbana é causado por mil pequenos cortes“, explica o diretor do Instituto de Águas Wheeler, na Universidade de Berkeley, Michael Kiparsky.

“Nenhuma entrada de garagem ou telhado por si só causa uma alteração massiva no ciclo hidrológico, mas combinando milhões dessas estruturas numa só área, isso acontece. Talvez possamos resolver esse problema com mil curativos“, brinca.

Tomás Guimarães, ZAP //

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