A comissão está ainda a tentar estreitar as relações com as autarquias para que os apelos às denúncias cheguem a quem vive à margem e não tem forma de contactar o grupo.
Desde a sua abertura há um mês, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica já recebeu 214 denúncias.
O grupo, que está a investigar casos de abusos ocorridos nos últimos 70 anos, e adianta num comunicado que em breve vai enviar uma carta a todos os municípios do país para que “reforcem a mensagem” entre as franjas da população que “vivem em margens sociais, culturais e económicas”, cita a Renascença.
“Em muitos desses testemunhos, as vítimas não só descrevem o que aconteceu sobre elas mesmo, como frequentemente apontam o conhecimento ou a forte probabilidade de, naquelas circunstâncias de tempo e espaço, outras crianças terem sido vítimas do mesmo abusador”, refere o comunicado.
Há denúncias de casos em todo o país e abrangem vítimas nascidas entre 1933 e 2006 oriundas de “todos os grupos sociais e níveis de escolaridade” e há ainda casos com portugueses que agora vivem no estrangeiro.
A nota refere ainda que pode haver “uma diferença considerável entre a quantidade de casos directamente validados e outros tidos como existentes ou muito prováveis”, de acordo com o Público.
Os relatos têm chegado à comissão através do preenchimento de um inquérito online, de telefonemas, de entrevistas presenciais e do contacto com outras estruturas, como a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, as Comissões Diocesanas, o Instituto de Apoio à Criança, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, a Associação Quebrar o Silêncio ou o Sistema de Proteção e Cuidado de Menores e Adultos Vulneráveis.
A comissão tem trabalhado a partir de um apartamento em Lisboa descaracterizado, para garantir o anonimato das vítimas que se cheguem à frente. As denúncias de crimes que ainda não tenham prescrito vão ser encaminhadas para a Polícia Judiciária e para a Procuradora-Geral da República.
O grupo deve apresentar um relatório até 31 de Dezembro de 2022 a detalhar as suas conclusões. Para além do número de casos de abuso, o documento vai procurar traçar um perfil das vítimas e dos abusadores, do tipo de abusos mais comuns e onde são mais comuns. A comissão quer ainda avaliar a evolução da relação da população com a Igreja Católica.
A Igreja tem repetidamente afirmado estar disposta a colaborar com a investigação. A Conferência Episcopal Portuguesa garantiu ontem que todos os bispos estão disponíveis para dar o acesso aos arquivos diocesanos, onde podem estar documentos relativos a estes casos.
A comissão é coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e integra ainda o psiquiatra Daniel Sampaio, o juiz conselheiro e antigo ministro da justiça Laborinho Lúcio, a socióloga Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares, e ainda a cineasta Catarina Vasconcelos.