Nem o TGV é boa notícia para todos. Quando os comboios são um problema num país

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ZAP

Portugal não segue o exemplo de outros países, onde o comboio é uma solução para milhões de pessoas. Aqui, multiplicam-se os problemas e as queixas.

Os comboios têm marcado a agenda do dia em Portugal, ao longo dos últimos tempos.

O assunto mais “palpável” para os passageiros, que altera mais as rotinas, são as greves sucessivas.

O ano 2023 abriu com uma greve, entre os dias 3 e 8 de Janeiro. Houve nova paralisação entre os dias 8 e 17 de Fevereiro, com cancelamentos ou atrasos até ao dia 21. Escrevemos este artigo em semana de greve (quatro dias). E ainda em Março haverá nova paralisação, entre os dias 10 e 17.

Em 76 dias deste ano, os comboios vão estar atrasados ou com viagens canceladas em 32 dias de greves. Ou seja, em quase metade do tempo.

As greves na CP são tantas, e em tantos dias de interesse geral, que pouca gente se dá ao luxo de confiar na CP como solução diária. Não gostam de ficar “pendurados”, não gostam de um serviço que falha quando as pessoas precisam. Alegam que a cobertura geográfica da rede ferroviária é muito baixa relativamente ao que deveria ser.

Os comboios deveriam ser uma alternativa às pessoas que já têm carro, mas que vêem no comboio uma solução mais económica ou cómoda. Ou seja, uma alternativa real, que fizesse parte da rotina de milhares ou mesmo de milhões de pessoas. Com gosto.

Contudo, em Portugal os comboios são uma espécie de transporte público para quem não tem outro “remédio”, para quem não tem outra solução para ir para o trabalho. Para quem não tem carro, na maioria dos casos.

E depois, a CP. A Comboios de Portugal tem problema (ou problemas?) crónico: queixas em relação à qualidade do serviço.

Os passageiros queixam-se dos atrasos constantes, dos comboios suprimidos, da falta de linhas no interior e das greves.

Os funcionários fazem greves porque queixam-se das condições de trabalho, querem salários mais altos e um prémio financeiro anual.

Há quem defenda uma medida controversa: revisão muito profunda do direito à greve. Não proibir mas regular de outra forma. E, acima de tudo, reduzir o impacto da greve para os passageiros.

Há quem veja uma solução. A única: privatização. Se nos tentarmos lembrar de protestos/greves em empresas privadas de transportes, reparamos que são muito menos. E até terão mais razões para fazer greves, comparando com o contexto da CP.

TGV = mais queixas

A avaliação à rede ferroviária em Portugal só tem piorado ao longo das últimas décadas: muitas linhas foram fechadas, verificou-se (e verifica-se) degradação das linhas e do seu material circulante.

Até que, já com o Governo liderado por António Costa, multiplicaram-se as notícias sobre o Plano Ferroviário Nacional: mais centenas de quilómetros sobre carris, com mais ligações ao interior e com projectos de alta velocidade (TGV).

Mas também o TGV origina queixas.

A Norte do país, a ideia é colocar o eixo de alta velocidade no trio Aveiro-Viseu-Salamanca.

O presidente da Câmara Municipal de Bragança quer o TGV em Trás-os-Montes, através da linha Porto-Zamora-Madrid.

E já avisou: “Ou nós conseguimos incluir a linha de Trás-os-Montes no Plano Ferroviário Nacional ou ficamos definitivamente arredados da ferrovia”.

“Nós já temos a experiência de ter o comboio até Bragança e de ser o fim de linha. Tanto que isso aconteceu e o comboio desapareceu em 1989″.

Hernâni Dias escreveu ainda no Expresso que esta alternativa seria quase duas horas mais rápida do que o trajecto que começaria em Aveiro e acabaria em Salamanca.

O secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Francisco, comentou que o comboio poderá realmente passar por Trás-os-Montes. Mas não haja ilusões. “Quando digo que não há ilusões, não estou a dizer que nunca vai acontecer; estou a dizer que não vai acontecer tão cedo como as pessoas esperam”, explicou.

Aqui ao lado (ou aqui em cima), novas queixas sobre planos, quando surgiu a notícia de que a ligação alta velocidade Porto-Vigo nem vai ficar pronta até 2030.

A conselheira das Infraestruturas e Mobilidade da Junta da Galiza, Ethel Vázquez, vê nesta indicação “uma má notícia para a Galiza, para a Eurorregião e para Portugal”.

Gostaríamos de publicar um artigo com o título ‘Recorde de utilizadores de comboio coincide com recorde de menos automóveis’ – mas as greves, as queixas, as condições e os atrasos nos projectos asfixiam qualquer tentativa de mudança, nos próximos tempos.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

7 Comments

  1. Por muito que me custe a assumir, o direito à greve tem mesmo de ser revisto. Estas paralisações da cp e dos professores estão a ter impactos em quem não tem culpa nenhuma só para o benefício de quem reclama de barriga cheia. Não sei, é fazer a greve fora do horário de trabalho, ou aos fins-de-semaan ou então ter de repor as horas de trabalho a dobrar em dias de folga para o pessoal ver se começa a fazer greve só quando tiver mesmo de fazer. Há uns anos tentei ir trabalhar de comboio para reduzir os custos com o carro, mas logo nos primeiros dias espetaram-me com duas greves e em vez de poupar, só me fizeram gastar mais e chegar atrasado. Comboios nunca mais!

    • Resumindo, o que você pretende é terminar com o direito à greve, se a greve não incomodar ninguém, qual é o efeito?
      Acha que os trabalhadores fazem greve por desporto? Como sabe, na maior parte dos casos a greve resulta num prejuízo direto no vencimento do trabalhador. Não trabalha, não recebe.
      Se você está contente com as suas condições de trabalho, ótimo. Mas não pode impedir os outros de lutarem por melhores condições.

      • Comuna. Quem faz greve pode incomodar os outros em seu proveito, mas quando são os FP e sindicalistas a ser incomodados pelos outros, venha o carmo e a trindade…

      • Desculpe que lhe diga mas a ignorância é atrevida, mas quando não se sabe mais, é sempre preferível estar calado.
        A greve é um direito e estamos no séc XXI.
        Quando os trabalhadores fazem greve é para prejudicar a entidade empregadora, não é para prejudicar os outros cidadãos que nada tem a ver com o assunto.
        Desde quando é que a greve é feita para prejudicar o cidadão ?
        É que assim sendo, os cidadãos podem mobilizar-se e partir as trombas dos grevistas, prejudicando o direito à saúde deles, ou não será assim.
        Passar bem …

  2. O TGV só é viável num país com salários mais altos caso contrario será apenas um substituto do alfa pendular, com viagens mais caras, que custará um balburdio aos contribuintes na sua implementação e manutenção. Se o TGV for gerido pela CP o cenário será ainda pior.

  3. Havendo um expresso que faz Lisboa – Viseu em 3 horas por 7.99€, qual o interesse em fazer o mesmo trajeto em 2 horas por 50€

  4. Curioso,tanta gente que sabe tanto de TGVs,em Italia ate existem passes para deslocações pendular diárias,ex,trabalhar no Porto e habitar Coimbra …

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