Incerteza que rodeia a vida interna dos dois partidos tem consequências diretas na política nacional na antecâmara das eleições, com incumbentes e candidatos a apostarem em estratégia em espelho.
Na entrevista que concedeu ontem à noite à SIC, o líder dos sociais-democratas defendeu ter motivos para acreditar que coligar-se com o CDS nas próximas eleições legislativas poderia ser uma boa e uma má escolha. Por exemplo, lembrou que nas duas vezes em que venceu a corrida à Câmara do Porto o fez com o apoio dos centristas. Ainda mais longe, quando ganhou a presidência da Associação de Estudantes da Faculdade de Economia do Porto, o apoio do CDS também esteve presente.
Desta feita, e quando está em jogo a futura liderança política nacional, tudo pode ser diferente. Segundo noticia o Expresso, nas hostes laranjas o plano para as legislativas – ainda que esteja em estágio de boço – passa por submeter o partido a votos sozinho, sobretudo se as eleições forem “depressa”. “Se as eleições forem a meio de janeiro – data que Rio deseja –, não haverá coligações”, afirmou fonte da atual direção do semanário ao Expresso.
A ideia é evitar que o resultado do CDS seja “sobrevalorizado”, tal como acontece sempre que as duas forças partidárias aparecem juntas nos boletins de voto dos portugueses, e tirar partido do clima de polarização em que as eleições deverão decorrer. Por outras palavras, com muito do discurso da campanha a girar em torno do “voto útil, acredita-se que, assim, o PSD conseguirá “drenar” o eleitorado democrata-cristão.
O cenário de alianças pós-eleitorais são, contudo, uma questão diferente. Dele poderão fazer parte CDS e Iniciativa Liberal, com o Chega a ser colocado fora do cordão sanitário por Paulo Rangel em qualquer circunstância e por Rui Rio caso o partido de André Ventura não se modere. Enquanto o eurodeputado parece apostado em pedir “maioria absoluta”, Rio prefere a expressão “maioria para governar” – uma ideia que, entende, só é possível à direita.
Todas as perspetivas eleitorais nacionais que possam ser traçados dentro do PSD esbarram, naturalmente, na sua crise política interna. Entre pedidos de adiamentos e de atrasos do congresso e das diretas, não é possível afirmar sequer quem irá proceder à elaboração das listas a deputados já que não se sabe quais os prazos da realização das eleições legislativas. A decisão caberá a Belém, isto é, Marcelo Rebelo de Sousa que, até no que respeita à corrida interna do PSD, em pleno ano de 2021, tem a faca e o queijo na mão.