Não é a Aliança Democrática (AD), mas tem um Partido Social Democrata na liderança. Coligação com os liberais e com os “verdes” começou bem, mas azedou em má altura.
A “falta de coesão” num “casamento por conveniência” que forma o governo alemão está a afetar os três partidos que integram a coligação, com resultados alarmantes a poucos meses das eleições europeias.
Para o politólogo Thomas Biebricher, , analista ouvidos pela Lusa, o trabalho conjunto do Partido Social Democrata (SPD), dos liberais do FDP e dos Verdes, até começou bem. Mas o casamento — que não é por “amor”, sim por “conveniência” — tem vindo a azedar e a enfraquecer “mais e mais” a coligação semáforo, acredita o analista político Benjamin Höhne.
“No primeiro ano, as sondagens eram bastante favoráveis e o desempenho era melhor do que muitos esperavam, atendendo às diversas crises que tiveram de enfrentar, desde a Ucrânia aos preços da energia. Depois, a certa altura, em 2023, as coisas pioraram”, apontou Biebricher, professor na Universidade Johann Wolfgang Goethe em Frankfurt am Main.
“A perceção passou a ser de que os partidos que formam a coligação não se entendem, com constantes picardias e conflitos”, o que trará, potencialmente, maus resultados principalmente para o SPD e para o FDP.
“Penso os Verdes se sairão relativamente bem em comparação com os outros dois partidos, mas, em geral, penso que não será positivo para nenhum dos três. E isso levanta outro problema à coligação, como lidar e comunicar isso. Acho que será outra oportunidade para se culparem uns aos outros pelo resultado”, destacou o professor de ciência política em declarações à Lusa.
De acordo com uma sondagem da Forsa, revelada a 15 de março, se as eleições europeias fossem hoje a CDU (União Democrata-Cristã), com o partido irmão na Baviera CSU, conseguiria mais votos do que os três partidos do governo juntos, cerca de 34%.
“Casamento por conveniência” e não por amor
“O principal motivo é a falta de coesão”, atribuiu Benjamin Höhne, coordenador da Universidade Otto von Guericke de Magdeburgo para a “Rede Universitária EU GREEN”.
“Vemos, desde o início desta coligação semáforo, que os Verdes e os liberais trabalham juntos, mas parece que é à força. Não é um casamento por amor, é por conveniência. No meio temos um SPD com um chanceler que faz o papel de moderador, que tenta gerir os conflitos e encontrar compromissos, mas sem exercer um papel de liderança forte”, sublinhou.
“A coligação está a enfraquecer mais e mais. Se os liberais deixarem a coligação, arriscam-se a não ser eleitos para o parlamento, já que precisam de conseguir mais de 5% (…) Três estados do leste da Alemanha têm eleições este ano, o FDP está a perder cada vez mais terreno e arrisca-se a não ter representação”, acrescentou.
Höhne concorda que, dos três partidos da coligação, apenas os Verdes parecem ter condições para atrair o eleitorado às urnas.
Extrema-direita cresce, movida pela insatisfação
Também é expectável que a extrema-direita ganhe terreno, apesar de ter caído ligeiramente na última sondagem.
“Se olharmos para eleições europeias passadas, vemos que alguns partidos conseguem mobilizar o eleitorado com algum sucesso. É o caso dos Verdes, acho que para eles estas eleições vão correr bem. Mas acredito que o SPD e o FDP venham a perder votos, e a extrema-direita, por outro lado, venha a ganhar apoio. Há uma crescente insatisfação com o sistema político, com a economia e a inflação, e a AfD consegue por isso mobilizar o eleitorado”, detalhou.
“Mais vale não mexer no governo”
Os dois especialistas acreditam que as eleições europeias de junho trarão poucas consequências para a “semáforo” e as cores que a formam – vermelho, verde e amarelo – deverão permanecer intactas.
“Não veremos consequências diretas depois das eleições, nenhum destes partidos tem outra alternativa. Para o SPD, haveria a possibilidade de uma ‘grande coligação’ com a CDU e a CSU, mas não acredito que seja uma possibilidade real. Também para os Verdes e o FDP não há qualquer outra coligação alternativa”, sentenciou Benjamin Höhne.
Thomas Biebricher entende que, com três eleições regionais (na Saxónia, Turíngia e Brandeburgo) a poucos meses das europeias, podem revelar-se contraproducentes grandes alterações.
“Considero que não seja uma decisão acertada uma grande mexida do governo nesta altura. Acredito que pensem que, nesta altura, mais vale enfrentar o que aí vem em vez de fazer mudanças, porque isso ainda pode piorar tudo nas regionais”, considerou.
ZAP // Lusa