Um antigo código pictórico que intrigou os especialistas durante mais de um século poderá ter sido interpretado na íntegra pela primeira vez, dando-nos uma visão mais aprofundada do poderoso império assírio que se estendeu por grande parte do Médio Oriente entre os séculos XIV e VII a.C.
Uma equipa de investigadores poderá ter decifrado o misterioso código presente em em antigos templos assírios.
De acordo com os investigadores, cujo trabalho foi apresentado num artigo recentemente publicado no Bulletin of the American Society of Overseas Research, estes símbolos referem-se ao rei Sargão II, que governou entre 721-704 a.C.
Na sua forma abreviada, são constituídos por um leão, uma figueira e um arado. Na sua forma mais longa, são cinco símbolos em sequência: um pássaro e um touro a seguir ao leão, depois a árvore e o arado.
Essas imagens aparecem em vários lugares em templos em Dūr-Šarrukīn, que foi durante um curto período de tempo a capital da Assíria. As ruínas enterradas da antiga cidade foram escavadas durante os séculos XIX e XX.
Mas o significado das imagens — se representam deuses, forças sobrenaturais, a autoridade do rei ou uma tentativa de hieróglifos egípcios — há muito que é debatido.
“Esta região do mundo, que inclui o atual Iraque e partes do Irão, Turquia e Síria, é muitas vezes referida como o ‘berço da civilização'”, diz o assiriólogo e historiador Martin Worthington, do Trinity College de Dublin, na Irlanda, e autor do estudo, em comunicado da instituição.
“Foi aqui que nasceram cidades e impérios e a sua história é uma parte importante da história da humanidade”, acrescenta o investigador.
As pistas recolhidas por Worthington levam o investigador a concluir que estas imagens evocam o nome de Sargão II — uma teoria proposta pela primeira vez (mas não explorada) em 1948.
O autor sustenta esta sugestão mostrando que os símbolos podem também fazer referência a constelações estelares; a intenção seria prestar homenagem ao rei soberano escrevendo o seu nome nas estrelas e associando-o aos deuses.
É importante notar que a interpretação é válida tanto para a forma longa como para a forma curta deste código gráfico.
Embora teorias anteriores tenham sugerido que os ícones poderiam referir-se ao rei e ao céu noturno, devido às cores azul e amarela com que eram representados, esta é a primeira investigação a reunir sistematicamente essas ideias.
Worthington explica em pormenor a linguagem utilizada: como, por exemplo, a palavra assíria para “árvore” soa de forma semelhante a “mandíbula”, que é o nome de uma constelação que as pessoas da época conheceriam.
Além disso, estas constelações estavam ligadas a deuses antigos, num sinal adicional de respeito para com Sargão. “O efeito dos cinco símbolos foi o de colocar o nome de Sargão nos céus, para toda a eternidade – uma forma inteligente de tornar o nome do rei imortal”, diz Worthington.
Embora possam ter recuado para o passado antigo, as civilizações mesopotâmicas foram extremamente importantes em muitos aspetos da história da humanidade, o que significa que uma melhor compreensão de como viviam, pensavam e governavam é valiosa.
“O facto de funcionar tanto para a sequência de cinco símbolos como para a sequência de três símbolos, e de os símbolos também poderem ser entendidos como constelações culturalmente apropriadas, parece-me altamente sugestivo“, diz Worthington.
“As probabilidades de tudo isto ser um acaso são — perdoem-me o trocadilho — astronómicas”, conclui o investigador.