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Cinco medicamentos mudaram o mundo — para o bem e para o mal

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Rajitha Ranasinghe / Flickr

É difícil medir o impacto de cada medicamento na história do mundo. Mas aqui ficam cinco remédios que podemos dizer com certeza que fizeram uma enorme diferença nas nossas vidas, frequentemente de formas que não esperávamos.

Trouxeram alguns benefícios incríveis. Mas também chegaram com um legado de complicações que têm de ser analisadas criticamente. São um bom lembrete de que o medicamento milagroso de hoje pode ser o problema de drogas de amanhã.

Anestesia

Nos finais do século XVIII, o químico inglês Joseph Priestley criou um gás a que chamou “ar nitroso flogisticado” (óxido nitroso). O químico inglês Humphry Davy pensou que podia ser usado para aliviar a dor nas cirurgias, mas em vez disso, tornou-se uma droga para uso recreativo.

Foi só em 1834 que chegou a um outro marco. Foi quando o químico francês Jean-Baptiste Dumas nomeou o um novo gás clorofórmio. O médico escocês James Young Simpson usou-o em 1847 para ajudar durante um parto.

Em breve, a anestesia começou a ser mais usada durante cirurgias, melhorando as taxas de recuperação. Antes da anestesia, os pacientes morriam frequentemente devido a choques causados pela dor.

Mas qualquer medicamento que deixa as pessoas inconscientes pode ser prejudicial. A anestesia moderna ainda pode ser perigosa devido aos riscos de suprimir o sistema nervoso.

Penicilina

O que aconteceu em 1926 com o médico escocês Alexander Fleming é uma das histórias clássicas da descoberta acidental de um medicamento.

Fleming foi de férias, deixando algumas culturas da bactéria streptococcus no seu laboratório. Quando voltou, viu que a presença de algum penicillium (contaminante de um fungo) no ar impediu que as culturas de streptococcus crescessem.

O patologista australiano Howard Florey e a sua equipa estabilizaram a penicilina e levaram a cabo as primeiras experiências em humanos. Com financiamento americano, a penicilina foi produzida em massa e mudou o curso da Segunda Guerra Mundial. Foi usada para tratar milhares de soldados.

A penicilina e os seus descendentes foram um enorme sucesso na criação de medicamentos para doenças que matavam milhões de pessoas. No entanto, o seu uso generalizado levou ao aparecimento de bactérias resistentes a antibióticos.

Nitroglicerina

A nitroglicerina foi inventada em 1847 e substituiu a pólvora como o explosivo mais poderoso do mundo. Foi também o primeiro medicamento moderno que tratou a angina, a dor no peito associada às doenças cardíacas.

Os trabalhadores de fábricas expostos ao explosivo começaram a ter dores de cabeça e rubor nos rostos. Isto explica-se porque a nitroglicerina é um vasodilator — abre os vasos sanguíneos.

O médico londrino William Murrell fez experiências com nitroglicerina em si mesmo e testou-a nos seus pacientes com angina, que notaram um alívio quase imediato.

A nitroglicerina possibilitou que milhões de pessoas com angina vivessem vidas relativamente normais. Também abriu caminho para medicamentos que reduzem a pressão sanguínea, que melhoraram a esperança média de vida nos países ocidentais.

Mas porque as vidas das pessoas são agora mais longas, há agora mais mortes por cancro e outras doenças não comunicáveis. Por isso, a nitroglicerina mudou o mundo de formas inesperadas.

Pílula

Em 1951, a ativista por contracetivos norte-americana Margaret Sanger pediu ao investigador Gregory Pincus que desenvolvesse um contracetivo hormonal eficaz, financiado pela herdeira Katharine McCormick.

Pincus descobriu que a progesterona ajuda a impedir a ovulação, e usou isto para desenvolver um medicamento que foi testado em mulheres vulneráveis, notoriamente em Porto Rico, onde houve preocupações sobre o consentimento informado e sobre os efeitos secundários.

O novo medicamento foi lançado pela GD Searle & Co sob o nome Enovid em 1960, com aprovação da Administração de Alimentos e Medicamentos. Esta foi garantida porque o risco de gravidez era visto como maior do que o risco dos efeitos secundários, que incluem coágulos sanguíneos e AVC.

Foram precisos dez anos para se provar uma ligação entre o contracetivo oral e efeitos secundários sérios. Depois de um inquérito governamental dos EUA em 1970, os níveis de hormonas da pílula foram diminuídos dramaticamente. Outro efeito foi a bula que agora se encontra nas embalagens de todos os medicamentos.

A pílula causou mudanças demográficas globais enormes, com famílias mais pequenas e rendimentos maiores com as mulheres a voltar a entrar na força de trabalho. No entanto, continua a levantar questões sobre como os médicos fazem experiências nos corpos das mulheres.

Diazepam

O primeiro benzodiazepina, um tipo de calmante do sistema nervoso, foi criado em 1955 e foi vendido pela farmacêutica Hoffmann-La Roche como Librium.

Este e medicamentos relacionados não foram vendidos como “curas” para a ansiedade. Em vez disso, era suposto ajudarem as pessoas a participar na psicoterapia, que era vista como a verdadeira solução.

O químico polaco-americano Leo Sternbach e o seu grupo de investigação alteraram quimicamente o Librium em 1959, produzindo um medicamento muito mais poderoso. Este era o diazepam, vendido em 1963 como Valium.

Baratos e facilmente disponíveis, estes medicamentos tiveram um impacto enorme. Desde 1969 até 1982, Valium era o medicamento mais vendido nos Estados Unidos. Estes fármacos criaram uma cultura de gestão de stress e ansiedade com medicação.

O Valium abriu caminho para os antidepressivos modernos. Era mais difícil (mas não impossível) sofrer uma overdose com estes medicamentos novos, e tinham menos efeitos secundários. O primeiro inibidor seletivo de recaptação de serotonina foi a fluoxetina, vendida em 1987 como Prozac.

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