
“Tardígrado”, por Tagide de Carvalho, fotografia vencedora da categoria regional Americas do Prémio Imagem do Ano 2019 da Olympus.
“Porque não?”, é a resposta mais simples. A técnica poderá um dia permitir que os cientistas incorporem biossensores em organismos vivos, justificam os investigadores chineses.
Medem apenas meio milímetro de comprimento, mas os indestrutíveis tardígrados andam a ser tatuados por investigadores da Universidade de Westlake, em Hangzhou, na China.
Famosos pelas suas incríveis habilidades de adaptação e sobrevivência, os ursos d’água estão por toda a parte por estas bandas, na Terra, desde o fundo do mar até ao topo de montanhas, especialmente em musgos e na lama. Num único punhado de musgo, estão milhares destes bichinhos microscópicos com superpoderes biológicos.
Estes ursinhos conseguem entrar em um estado de criptobiose chamado “tun”, que lhes permite suportar temperaturas extremas (entre os -272ºC e os 150ºC). Entram num estado de desidratação extrema, reduzindo o seu metabolismo a quase zero, e assim podem ficar durante décadas.
São também tolerantes à radiação a um nível incrivelmente superior ao dos humanos e sobrevivem no vácuo espacial.
Agora, os cientistas descobriram uma nova forma de usar os tardígrados para pesquisa: como uma tela viva.
Ao desidratar os animais para desencadear o seu estado tun e colocá-los em papel composto de carbono arrefecido a -143 °C, a equipa revestiu-os com uma fina camada do composto orgânico anisol.
De seguida, direcionaram um feixe de eletrões de baixa energia sobre os tardígrados. O anisol reagiu com o feixe para formar uma substância pegajosa que aderiu às suas superfícies semelhantes à pele, criando efetivamente tatuagens microscópicas.
É importante ressaltar que as tatuagens permaneceram intactas mesmo depois de os tardígrados terem sido reidratados e voltarem à vida, segundo o IFL Science.
As formas — algumas com apenas 72 nanómetros de largura, incluindo o logótipo da universidade responsável pelo estudo publicado no final de março na Nanoletters — esticaram-se, mas mantiveram a sua forma quando as criaturas voltaram à vida.
Apesar de uma taxa de mortalidade de cerca de 60% durante o processo de desidratação, os tardígrados que resistiram mostraram um comportamento normal após o procedimento.
Mas… qual foi o objetivo da experiência?
O objetivo vai muito além da novidade, segundo os chineses.
A técnica poderá um dia permitir que os cientistas incorporem biossensores em organismos vivos, de modo a tentar identificar sinais precoces de doenças como cancro ou infeções e, potencialmente, realizar intervenções médicas em microescala.
Até agora, os métodos de nanoengenharia tinham-se revelado incompatíveis com organismos vivos devido a problemas como danos causados pela radiação e acumulação de carga.
No entanto, este novo processo demonstra que a litografia precisa por feixe de eletrões pode ser adaptada para uso biológico, sem prejudicar os indivíduos envolvidos, desde que as camadas protetoras sejam cuidadosamente calibradas.