Cientistas quiseram saber por que a música assustadora é… assustadora. Afinal, a culpa é nossa

Warner Brothers

“The Conjuring 2”, James Wan, 2016

Investigadores perceberam que muitas das músicas usadas nos filmes de terror têm sons que replicam gritos ou outras emoções humanas típicas em momentos de aflição.

A escolha da banda sonora de filmes e séries é uma das tarefas que mais tempo exige aos diretores, que tentam, de forma minuciosa, casar os momentos presentes na trama com a melodia que a acompanha. Dizem os críticos, a música cerca no momento certo pode elevar a produção cinematográfica para um outro nível, não sendo por acaso que os próprios Óscares têm uma categoria dedicada às banda sonoras.

Entre os vários géneros de música existentes, os cientistas acham especialmente intrigantes as assustadoras, ou seja, as que parecem assentar que nem uma luva aos filmes de terror. O objetivo dos investigadores, desde há alguns anos, é tentar identificar, nas composições, o que as torna, de facto, assustadoras — algumas pesquisas anteriores dão conta de que a explicação poderá estar nas notas que replicam os gritos humanos, sons que fazemos quando estamos assustados.

Esta é, de resto, uma teoria que há muito circula na ciência: os sons existentes numa música pode levar o ser humano a associá-la a sentimentos devido a semelhanças entre as notas das músicas e os sons que as pessoas fazem quando expressam esses mesmos sentimentos. Outra teoria, do mesmo âmbito, indica que a música e o discurso evoluíram juntos, como técnicas usadas pelos nossos ancestrais para expressar sentimentos.

Algumas associações entre sentimentos e a música podem, no entanto, ser mais difíceis de identificar do que outras, aponta Caitlyn Trevor, investigadora na área do reconhecimento musical da Universidade de Zurique. Por exemplo, uma melodia pode parecer feliz, ou remeter para a felicidade, quando as notas variam pela escala, tal como o discurso humano sobe e desce quando estamos de bom humor, sugere a investigadora. Até um certo ponto, os gritos humanos são semelhantes a gargalhadas, no entanto, entre os dois há mais sons distintos que podem ser identificados pelos compositores e inseridos em músicas.

“Muitos desses sons são, na minha opinião, uma espécie de templates na nossa cabeça”, explica Trevor. “É isso que os cientistas estão à procura: como é que a música reflete muitas das pistas que se podem ouvir nas vozes humanas?”.

Para efeitos de estudo (publicado no The Journal of the Acoustical Society of America) , Caitlyn Trevor gravaram sons de pessoas a gritar e armazenaram trechos de músicas compostas para momentos de especial tensão nos filmes de terror, por exemplo, quando os monstros atacam. Entre os vários aspetos que a equipa de investigadores pretendia estudar estava a semelhança entre a “rugosidade da música assustadora juntamente com a rugosidade dos nossos gritos”.

Segundo a investigadora, é possível decifrar o stress do ser humano nas vozes humanas quando o indivíduo está a empurrar ar através das cordas vocais com demasiada força — algo pelo qual todas as pessoas já passaram, por exemplo, depois de concerto onde cantaram a plenos pulmões. Quando os instrumentos estão sujeitos a esforços semelhantes, também acabam por emitir sons semelhantes. Por exemplo, um violoncelista pode forçar o o arco com demasiada força, o que vai resultar num som semelhante a um gemido.

Quando a equipa de investigadores tocaram de seguida todos os sons recolhidos durante a investigação, os ouvintes avaliaram os gritos desde os que exprimiam uma grande intensidade emocional até aos que se assemelhavam a um som humano mas mais baixo do que o normal. O mesmo aconteceu para as comparações entre as faixas de áudio retiradas dos momentos mais tensões dos filmes e as faixas que acompanhavam os momentos mais neutros.

A equipa chegou à conclusão que a música usada nos momentos mais decisivos também poderia incorporar gritos reais, apesar de estes estarem mais “entorpecidos” do que as próprias vocalizações humanas — talvez por isso a música não tenha um efeito tão paralisante e forte como um grito verdadeiro.

Pesquisas semelhantes — com resultados igualmente semelhantes — aconteceram também nas Universidades da Califórnia e na Kingston University. Em vez de retirar amostras de áudios de filmes de terror, a equipa fez uma composição de áudios mais neutros e outros com sons mais estridentes. Quando reproduzidos para os participantes, os áudios foram ordenados com componentes distorcidos como tendo elementos mais fortes ou negativos.

Segundo Caitlyn Trevor, o que a música é suposto fazer-nos sentir e o que ela realmente nos faz sentir são duas coisas diferentes — com a segunda a ser mais difícil de detetar, dependendo, também, do contexto, por exemplo, ao que é que a pessoa associa a música quando a ouve. No estudo em que os investigadores produziram as suas próprias músicas, eles também pediram aos participantes que categorizassem a intensidade e a emoção destas ao mesmo tempo que a música se sobrepõe a uma cena mais monótona (seja uma personagem a ler um livro ou a beber café).

Estas imagens adicionadas levaram os espectadores a considerar a música menos intensa, por motivos que os investigadores não perceberam.

Tudo isto para explicar que a música dos filmes de terror pode não resultar na reação esperada. Mas caso tal aconteça, os investigadores querem sabe-lo. Tal como nota a Discover Magazine, as banda sonoras assustadoras têm parcialmente origem na música, pelo que se foram desenvolvendo ao longo de séculos.

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