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Cientistas norte-americanos desenvolvem opiáceos que não podem ser “desfeitos”

Preocupados com o aumento do vício em opiáceos e as mortes por overdose nos Estados Unidos, um grupo de cientistas está a desenvolver comprimidos que são impossíveis de desfazer, para que o medicamento não possa ser inalado, injetado ou misturado.

O professor Hossein Omidian, que comanda a investigação na faculdade de Farmácia da Universidade Nova Southeastern (NSU) de Fort Lauderdale, revelou que o segredo está no uso de polímeros que evitam a libertação dos compostos ativos do medicamento para usos indevidos.

“Devido à presença dos polímeros, o ingrediente ativo (fármaco) permanecerá preso se o revestimento for manipulado para inalar ou injetar”, explicou Omidian.

No entanto, o engenheiro químico formado pelo Instituto Politécnico de Teerã, no Irão, disse que a substância ativa será libertada se o comprimido for tomado como é recomendado pelo médico, por via oral.

“A ideia é utilizar esta inovação em fórmulas de opiáceos para minimizar as possibilidades de inalação ou injeção”, explicou Omidian.

Desde 2010, Omidian começou a desenvolver as chamadas “Fórmulas para Dissuadir o Abuso” (ADF) para fazer com que os dependentes desistiam de se injetar ou inalar opiáceos e outros medicamentos.

O especialista disse que esta fórmula pode ser usada em qualquer fármaco receitado ou outro agente ativo que seja suscetível de ser usado de uma maneira incorrecta.

A NSU pretende projetar revestimentos que possam resistir ao esmagamento ou interagir inteligentemente com água e álcool a diferentes temperaturas com o uso de um ou mais polímeros que fazem com que a composição fique mole ou dura e, portanto, não seja possível de “desfazer”.

O professor de Farmácia explicou que o “segredo” são várias tecnologias “que, combinadas, teriam um grande potencial para dissuadir o abuso de medicamentos receitados”.

Segundo o cientista, são “urgentes” as soluções modernas que podem evitar um alto uso de medicamentos receitados, visto que os viciados tendem a manipular medicamentos para acelerar a sua absorção e melhorar o seu efeito.

Em 2016, nos EUA, as mortes por overdose superaram os 33 mil e aumentaram 137% desde 2000. O aumento é de 200% se forem analisadas as overdoses provocadas por opiáceos, de acordo com o Human Rights Watch.

“Esperamos que os fabricantes de opiáceos ou as novas empresas adquiram licenças para usar esta tecnologia nas suas respectivas fórmulas após realizarem breves experiências”, explicou Omidian, sublinhando que as tecnologias de NSU têm “um grande potencial” para impedir o uso dos medicamentos indevidamente.

“As tecnologias que desenvolvemos não são fundamentalmente diferentes, mas suficientemente inovadoras para poder patenteá-las”, adiantou.

O especialista disse que a universidade já apresentou alguns pedidos de patente sobre estas tecnologias.

O governador da Florida, Rick Scott, assinou no dia 11 de julho uma lei que reforça os castigos e cria outros novos para delitos relacionados com as drogas sintéticas e, em maio, declarou emergência pública de saúde para tentar combater esta crise.

Na Florida, pelo menos 8.336 pessoas morreram de overdose entre 2013 a 2015. Em junho, um rapaz de apenas dez anos morreu, em Miami, aparentemente de uma overdose de fentanil, sem que se saibam ainda as circunstâncias da sua exposição a este potente analgésico.

ZAP // EFE

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