Cientistas inserem gene de jacaré em peixe-gato para criar híbrido imune a doenças

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Cientistas norte-americanos conseguiram inserir genes de jacaré no genoma de peixes-gato num esforço para melhorar o sistema imunitário dos animais, protegendo os peixes contra patógenos e ajudando na aquicultura.

O gene antimicrobiano em questão é conhecido como catelicidina e tem um papel importante na resposta imune a bactérias e vírus dos répteis.

Além da inserção, os investigadores fizeram uma terapia hormonal ao escolher a parte do genoma dos peixes-gato responsável pela reprodução para colocar o novo gene, tornando os animais estéreis.

Isto é importante para evitar que tais animais possam invadir o ambiente natural dos peixes-gato e acabar por eliminar linhagens comuns do peixe e trazendo possíveis problemas ao meio ambiente.

Os animais participantes foram, especificamente, o jacaré-da-china (Alligator sinensis) e o peixe-gato-americano (Ictalurus punctatus). Os resultados foram pré-publicados no repositório online bioRxiv.

A aquicultura, atualmente, tanto influencia nas alterações climáticas quanto é afetada por elas. Só nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 50% de todos os peixes criados em cativeiro são peixes-gato, mas quase 45% não passa da fase de alevim, ameaçando o meio ambiente e a sustentabilidade da indústria.

Os peixes-gato não só são muito suscetíveis a infeções bacterianas e fatores abióticos (mudanças no ambiente, como chuva e luz solar em excesso), como também acabaram por desenvolver resistência a antibióticos.

O esforço científico procura dar uma hipótese de sobrevivência maior a essas circunstâncias aos animais, mesmo que acabem por ser utilizados pela indústria.

A modificação genética foi realizada através da técnica CRISPR, que revolucionou o trabalho genómico nos últimos anos ao tornar a edição mais eficiente, acessível e precisa.

A enzima Cas9 foi a utilizada para integrar a catelicidina dos jacarés-da-china nos peixes-gato-americanos. O trabalho, no entanto, não está livre de controvérsias ou mesmo problemas práticos na implementação.

A questão do escape e reprodução dos peixes com os seus companheiros naturais não-modificados foi resolvida ao deixá-los estéreis, mas é levantada a questão da viabilidade aos aquicultores de ter um peixe fabricado em laboratório que não se reproduz.

Como é necessária a edição genética por CRISPR, pode haver um entrave logístico que impeça a produção em massa de peixes modificados, deixando uma linha geneticamente saudável a ser providenciada constantemente.

A aprovação de peixes transgénicos provavelmente revelar-se-á um problema também, já que há polémicas éticas em torno da modificação genética tanto de vegetais e plantas quanto da fauna, normalmente por conta do potencial de consequências imprevistas da mudança genómica.

Embora os investigadores afirmem que comeriam os peixes modificados “sem pestanejar”, a aceitação pública será bem mais difícil.

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