Os cientistas identificaram os percevejos como a primeira praga dos seres humanos. Embora não sejam portadores de doenças, 60.000 anos depois, continuamos a ser o prato principal da sua ementa.
Os insetos representam 90% dos animais do planeta – e há muito o hábito de chamar “pragas” a muitos deles. Mas qual foi a primeira praga humana?
Um estudo publicado esta quarta-feira na Biology Letters descobriu que os percevejos foram a primeira espécie que “sentiu o gosto” pelos humanos.
60.000 anos depois, continuamos a ser o prato principal da sua ementa.
Os investigadores da Virginia Tech fizeram esta descoberta depois de compararem os genomas de duas linhagens distintas de percevejos – uma que se suspeita ter apanhado boleia de um Neandertal há milhares de anos e outra que se manteve fiel ao seu hospedeiro morcego.
Descobriu-se que, enquanto a população de insetos que se alimentava de morcegos diminuiu ao longo de milhares de anos, os percevejos que conhecemos hoje evoluíram à medida que os seres humanos evoluíram – o que os põe como a nossa mais antiga “praga” conhecida.
“Inicialmente, com ambas as populações, assistimos a um declínio geral que é consistente com o Último Máximo Glacial. Por seu turno, a linhagem associada aos morcegos nunca recuperou e continua a diminuir de tamanho”, disse, à New Atlas, Lindsay Miles, autora principal e investigadora do Departamento de Entomologia da Virginia Tech.
“A parte realmente excitante é que a linhagem associada aos humanos recuperou e a sua população efetiva aumentou”, acrescentou.
Resistem há 60.000 anos
As cerca de 90 espécies de artrópodes sempre partilharam uma relação simbiótica estável com os seus hospedeiros – até que os antepassados humanos começaram a formar sociedades e a viver em estreita proximidade.
Foi então que o percevejo comum (Cimex lectularius) e o tipo tropical (Cimex hemipterus) forjaram um caminho duradouro de sobrevivência.
“Isso faz sentido porque os humanos modernos saíram das cavernas há cerca de 60.000 anos”, disse, à Ne Warren Booth, professor associado de entomologia da Virginia Tech, à New Atlas.
“Havia percevejos a viver nas grutas com esses humanos e, quando saíram, levaram consigo um subconjunto da população, pelo que há menos diversidade genética nessa linhagem associada aos humanos”, acrescentou.
Porque são tão resistentes?
O estudo também identificou uma mutação genética que tornou os percevejos tão resistentes a um inseticida anteriormente eficaz: o DDT [dicloro-difenil-tricloroetano].
Os percevejos eram muito comuns no mundo antigo, mas quando o DDT foi introduzido para controlo de pragas, as populações caíram. Pensava-se que tinham sido essencialmente erradicados, mas no espaço de cinco anos começaram a reaparecer e a resistir ao pesticida.
Entretanto, a eliminação progressiva do DDT, o aumento das viagens internacionais e a crescente densidade populacional urbana, o número de percevejos explodiu. Em 2006, os profissionais australianos de controlo de pragas estimaram que as infestações aumentaram 4.500% num ano.
“O momento e a magnitude dos padrões demográficos fornecem evidências convincentes de que a linhagem associada aos humanos acompanhou de perto a história demográfica dos humanos modernos e seu movimento para as primeiras cidades. Como tal, os percevejos podem representar a primeira verdadeira espécie de inseto praga urbana“, concluíram os investigadores.