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Cientistas identificam quantas mutações geram cada tipo de cancro

Annie Cavanagh / Wellcome Images

Células cancerígenas

Cientistas britânicos decifraram quantas mutações são necessárias para transformar uma célula saudável em cancerosa: entre uma e dez, dependendo do tipo de tumor.

As descobertas foram feitas por cientistas do Welcome Trust Sanger Institute e publicadas esta quinta-feira na revista científica Cell. Durante décadas, o assunto deste estudo foi alvo de calorosos debates entre cientistas que trabalham em investigações sobre o cancro.

Segundo os cientistas, as mais recentes descobertas podem agora aprimorar o tratamento contra a doença. Quando se compara uma célula saudável com uma cancerosa, é possível encontrar dezenas de milhares de diferenças, ou mutações, no ADN, avança a BBC.

Algumas dessas mutações fazem com que o cancro se desenvolva, enquanto outras não têm qualquer impacto no desenvolvimento. Por isso, os autores do estudo foram descobrir quais eram, de facto, importantes.

Para isso, os cientistas analisaram o ADN de 7.664 tumores, de forma a encontrar mutações perigosas, que transformam células saudáveis em cancerosas.

Com isso, os cientistas fizeram três importantes descobertas: uma única mutação é capaz de provocar cancro da tiróide e do testículo, quatro mutações são capazes de provocar cancro da mama e do fígado e dez mutações provocam cancro colorretal.

“Há décadas que tínhamos conhecimento sobre as bases genéticas do cancro, mas a discussão sobre quantas mutações são responsáveis pela transformação em célula cancerosa era controversa”, diz Peter Campbell, o autor principal do estudo.

“O que conseguimos nesta pesquisa foi fornecer os primeiros dados objetivos. Das milhares de mutações no genoma do cancro, só uma pequena porção é responsável por ditar o comportamento da célula, o que a torna cancerosa”, explica.

Metade das mutações identificadas ocorreu em conjuntos de genes que nunca tinham sido associados ao cancro antes. O objetivo do estudo, a longo prazo, é promover tratamentos mais precisos contra a doença.

Ao descobrirem quais as mutações, entre milhares, que estão a fazer o cancro avançar, os médicos poderão determinar os medicamentos mais eficazes para combater especificamente determinada mutação. Drogas como o herceptin e os inibidores BRAF já são usadas para atacar mutações em tumores.

A identificação das mutações capazes de transformar uma célula em cancerosa foi possível graças ao uso da teoria da evolução de Charles Darwin.

Geralmente, essas mutações deveriam aparecer com mais frequência nos tumores do que em mutações “neutras” – aquelas que não transformam células saudáveis em cancerosas.

Segundo os cientistas, isso ocorre porque as forças da seleção natural garantem uma vantagem evolutiva às mutações que ajudam as células a crescerem e dividirem-se mais rapidamente.

No entanto, Nicholas McGranahan, do Instituto de Pesquisa do Cancro do Reino Unido e do Instituto do Cancro da Universidade College London (UCL), faz ressalvas ao alcance da descoberta.

“O cancro é uma doença que está sempre em desenvolvimento e constante mudança. Faz sentido usar essas ideias de evolução das espécies para analisar falhas genéticas que permitem o crescimento do tumor, mas esse estudo foca-se apenas numa parte da evolução do cancro. Só ajuda a resolver parte do quebra-cabeça”, pondera.

Segundo o cientista, outros componentes do ADN acomodados nos cromossomas também são peças-chave na identificação das causas de surgimento do cancro e precisam de ser analisados para permitir uma resposta clara sobre a evolução da doença.

ZAP //

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