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Cientistas criam veículo que leva a quimioterapia às células cancerígenas

Susan Arnold / Wikimedia

A primeira etapa de uma sequência de seis passos da morte de uma célula cancerígena

A primeira etapa de uma sequência de seis passos da morte de uma célula cancerígena

Um grupo de investigadores de quatro países, liderado pelos portugueses Lino Ferreira e Ricardo Neves, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (UC), criou “um “transporte” de quimioterapia que chega ao local onde se produzem as células estaminais cancerígenas e que atua através de controlo remoto.

“As nanopartículas que transportam a quimioterapia permanecem inativas até serem ativadas na chegada ao “nicho leucémico”, local da medula óssea onde se encontram as CEC que dão origem a todas as células da leucemia”, explica a UC.

A ativação realiza-se por controlo remoto, através da projeção de luz azul sobre as nanopartículas que transportam a quimioterapia.

A investigação, publicada na revista Nature Communications, descreve “uma formulação de nanopartículas aplicada em cobaias com leucemia que se foca no papel do nicho leucémico” na progressão da doença e na resistência à quimioterapia.

“O nicho é altamente protetivo das células estaminais leucémicas que aí se encontram, tornando difícil a sua erradicação através da quimioterapia convencional”, acrescenta a UC, referindo que “a proteção descrita é, muitas vezes, responsável pelo regresso da doença após tratamento”.

Lino Ferreira e Ricardo Neves, coordenadores da equipa que também envolve cientistas da China, de Espanha e do Reino Unido, provaram que é possível utilizar células leucémicas como agentes de transporte de quimioterapia.

“Estas células conseguem encontrar o nicho leucémico, utilizando o seu sistema de “GPS natural” e, dessa forma, criam a oportunidade de colocar a nanopartícula, cheia de quimioterapia, junto do reservatório de células responsáveis pela doença“, salienta Ricardo Neves, citado pela UC.

Deste modo – afirma ainda o investigador – “torna-se possível despoletar a libertação da quimioterapia, por ação da luz, e ter maior impacto no local e consequentemente na doença, evitando também os efeitos secundários noutros locais”.

De acordo com Lino Ferreira, “este tipo de tecnologia pode vir a ser utilizado num contexto terapêutico através da utilização de moléculas sensíveis à luz com infravermelho, cuja radiação é menos energética, mas mais segura para utilização no organismo que a luz azul”.

A descoberta poderá ter “aplicações práticas no tratamento do cancro e em outras áreas, sendo que no contexto da leucemia pode ajudar a erradicar as células do nicho da medula óssea doente”, sublinha o especialista.

A nova tecnologia poderá também ser utilizada para “ajudar as células transplantadas a reconhecer a medula óssea do paciente como a sua “nova casa”, contribuindo para a produção constante de sangue durante o resto da sua vida”, explicita a UC.

As células transplantadas levam consigo as nanopartículas desenvolvidas neste trabalho do CNC, fazendo o seu percurso normal no organismo, sendo ativadas quando chegam à medula óssea do paciente porque recebem um estímulo luminoso que lhes sinaliza o final da viagem.

// Lusa

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