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Cientistas começam a desvendar os segredos do famoso dodó, extinto há 3 séculos

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(dr) Julian Hume

Os dodós viviam nas Ilhas Maurícias até serem extintos, há cerca de 350 anos

Novos estudos deixam os cientistas mais perto de desvendar como viviam os dodós, pássaros que não sabiam voar e que foram extintos há três séculos.

Os dodós, aves que não eram capazes de voar, foram vistos pela última vez em 1662, nas Ilhas Maurícias, onde viviam. E sabe-se ainda muito pouco sobre este animal.

Porém, uma análise recente de amostras de ossos sugere que os ovos eram chocados por volta do mês de agosto e que as crias atingiam rapidamente o tamanho adulto. E, em março, os dodós costumavam fazer a chamada ‘muda’ (troca de penas), revelando uma plumagem cinza macia, segundo relatos de marinheiros encontrados em registos históricos.

Foi a investigadora Delphine Angst, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, quem teve acesso às amostras de ossos, que se encontram preservadas em museus e coleções, incluindo fragmentos que foram doados recentemente a um museu em França.

A sua equipa analisou amostras de ossos de 22 dodós através do microscópio para tentar entender os padrões de crescimento e de reprodução da ave.

“Antes do nosso estudo, conhecíamos muito pouco sobre estes pássaros”, afirma Angst. “Mas ao fazer a histologia (estudo dos tecidos orgânicos) do tecido ósseo pela primeira vez, podemos dizer que este pássaro se reproduzia em determinada época do ano e fazia a muda logo de seguida”, explica.

Relatos

Os cientistas conseguem afirmar, pelos padrões de crescimento dos ossos, que as crias chegavam ao tamanho adulto muito rápido, depois de os ovos serem chocados em agosto. Isso ajudava as aves a sobreviver quando o arquipélago era atingido por ciclones, entre novembro e março, época de escassez de alimentos.

No entanto, estes pássaros levaram provavelmente vários anos para atingir a maturidade sexual, possivelmente porque as aves adultas, grandes e terrestres, não possuíam predadores naturais.

Os ossos dos pássaros adultos também mostram sinais de perda mineral, o que sugere que perdiam penas velhas e danificadas logo após o período de reprodução.

Os relatos de marinheiros do século XVII sobre os dodós são contraditórios: descrevem o pássaro como uma ave de penas “negras aveludadas” ou de “plumas onduladas de cor acinzentada”. Agora, a nova investigação, publicada na revista Scientific Reports, esclarece esta descrição.

“O dodó era um pássaro castanho-acinzentado e durante a muda apresentava uma plumagem negra e aveludada”, esclarece Angst. “O que descobrimos ao usar métodos científicos encaixa-se perfeitamente nos registos dos marinheiros daquela época”, conclui.

Roubo de ovos

O novo estudo também dá pistas sobre a extinção do dodó, há cerca de 350 anos, menos de cem anos depois da chegada dos primeiros seres humanos à ilha.

A caça feita pelos humanos foi um fator no desaparecimento dos dodós, mas os macacos, veados, porcos e ratos soltos na ilha, provenientes dos navios, provavelmente ditaram o seu destino final.

Os dodós colocavam os seus ovos em ninhos no chão, o que significa que ficavam vulneráveis ​​ao ataque de mamíferos selvagens.

Segundo Angst, o dodó é considerado “um grande ícone de extinção induzida por animais e humanos”, embora as circunstâncias exatas do seu desaparecimento sejam desconhecidas.

“É difícil saber o impacto real que os humanos tiveram sem conhecer a ecologia desse pássaro e a ecologia das Ilhas Maurícias naquela época”, explica a investigadora.

“Este é um passo para podermos entender isso e dizer: ‘Ok, quando os humanos chegaram, o que fizeram exatamente de errado e porque é que esses pássaros se extinguiram tão rapidamente?'”.

Julian Hume, do Museu de História Natural de Londres e co-investigador do estudo, diz que ainda existem muitos mistérios à volta deste animal. “O nosso trabalho mostra o que afetava o crescimento destes pássaros por causa do clima nas Ilhas Maurícias a cada estação do ano”.

“Na temporada dos ciclones, quando muitas vezes a ilha é devastada pelas tempestades, todas as frutas e folhas são arrancadas das árvores. É um período muito difícil para as aves e répteis das ilhas”, explica.

Embora muitos destes ossos estejam em museus europeus, a maioria foi perdida ou destruída durante a era vitoriana (1837 – 1901) no Reino Unido.

ZAP // BBC

2 Comments

  1. Claro que os humanos foram os culpados, alguém tem dúvidas sobre isso, e mais espécies serão extintas num futuro próximo.

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