Quem são os “cidadãos do reich” de extrema-direita acusados de planear golpe na Alemanha

1

Koen Van Weel / EPA

A prisão de 25 extremistas de direita que planeavam uma ação violenta para tomar o poder na Alemanha chamou atenção no mundo todo.

As autoridades alemãs passaram anos a monitorizar os ‘Reichsbürger’ (cidadãos do ‘reich’), grupos ou indivíduos que negam a existência da República Federal da Alemanha como Estado e o seu sistema legal. Em muitos casos, negam a legitimidade de qualquer representante eleito democraticamente.

Na quarta-feira, foram detidos 25 indivíduos que “seguem um conglomerado de mitos conspiratórios constituídos por narrativas do chamado ‘Reichsbürger’ e da ideologia QAnon”, segundo o Ministério Público alemão. O episódio é um dos últimos a destacar o crescimento da extrema direita no mundo.

“As investigações dão-nos um vislumbre do abismo que é a ameaça terrorista vinda dos ‘Reichsbürger'”, disse na quinta-feira a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser. Os “cidadãos do ‘reich'” são “impulsionados por fantasias violentas de poder e ideologias conspiratórias”, acrescentou.

Os cidadãos do ‘reich’ frequentemente não consideram o sistema legal, como Parlamento, leis ou tribunais. Eles declaram que o histórico ‘reich’ alemão continua a existir até hoje, daí seu nome (‘bürger’ é cidadão em alemão).

Isso significa que rejeitam, por exemplo, bilhetes de identidade alemães e, ao invés disso, emitem documentos fictícios, como a “carteira de motorista do ‘Reich'” ou “carteira de identidade do ‘Reich'”, chegando a imprimir as suas próprias moedas. Também se recusam a pagar impostos, taxas e contribuições.

Durante anos, esses grupos de extrema direita foram vistos como uma piada e cosiderados loucos. Contudo, nos últimos anos, os serviços de segurança do Estado alertaram que tornaram-se mais radicais e perigosos, intensificando a vigilância.

Apesar do nome, os cidadãos do ‘reich’ não são um movimento nacional organizado unificado, mas sim uma série de pequenos grupos e indivíduos espalhados por todo o país, unidos por essa crença comum.

Alguns sonham em criar o seu próprio Estado autónomo, separado da República Federal da Alemanha. No início deste ano, por exemplo, um grupo autodenominado ‘Königreich Deutschland’ (Reino da Alemanha) comprou dois terrenos no Estado da Saxónia, no leste da Alemanha, onde pretendia criar o seu próprio Estado.

Muitos dos ‘Reichsbürger’ possuem armas, legais ou ilegais. Isso tornou-se preocupante quando, em 2016, um bávaro atirou e matou um agente da polícia quando este revistava a sua casa em busca de armas.

Desde então, as autoridades alemãs revogaram mais de mil licenças de armas de pessoas suspeitas de aderir a essa ideologia. Entre 2016 e 2021, cerca de 1.050 cidadãos do ‘reich’ tiveram as suas licenças para posse de armas revogadas. No entanto, cerca de 500 ainda possuem armas de forma legal.

Números do governo mostram que os ‘Reichsbürger’ e o chamado ‘Selbstverwalter’ – um grupo com crenças semelhantes – cometeram mais de mil crimes em 2021, o dobro do número em 2020.

Das 21 mil pessoas nos círculos dos ‘Reichsbürger’, acredita-se que 1.150 sejam extremistas de direita e 2.100 potencialmente violentas, de acordo com dados do serviço secreto alemão, o Escritório para a Proteção da Constituição (BfV). Além disso, segundo as suas informações, “aproximadamente um em cada dez considera-se disposto a recorrer à violência”.

Eles também têm laços com os militares alemães, disse Miro Dittrich, especialista que rastreia teóricos da conspiração. Na sua opinião, a pandemia serviu para radicalizar ainda mais o grupo e para aumentar a sua adesão.

“A pandemia foi um momento difícil para muitas pessoas. Não estava claro como as coisas iriam acontecer. As narrativas de conspiração eram bastante atraentes para muitas pessoas porque traziam ordem ao mundo”, referiu.

Os “cidadãos do reich” participaram de protestos contra os ‘lockdowns’ ao lado de grupos anti-vacinas, de negacionistas da pandemia e de membros do QAnon.

Eles também estavam presentes quando um grupo tentou invadir o Bundestag (o Parlamento alemão) durante uma manifestação contra as medidas aplicadas pelo governo alemão para combater a covid-19, em 2020.

Siga o ZAP no Whatsapp

1 Comment

  1. Esses detentos têm nome, cara, idade e origem e o artigo não os identifica. Um deles é brasileiro Bolsonarista de origem alemã e empresário em Santa Catarina, sul do Brasil.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.