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China ressuscita o “motor impossível” que os EUA abandonaram nos anos 70

Academia Chinesa de Ciências

Investigadores chineses desenvolveram um motor que utiliza combustível de aviação normal para viajar até Mach 16, o que poderá ser um fator de mudança no voo hipersónico

Cientistas chineses testaram com sucesso uma câmara de motor de detonação oblíqua que simulou condições de voo a Mach 8 e uma altitude de 30 km. Poderia atingir 16 vezes a velocidade do som.

Uma equipa de investigadores da Academia Chinesa de Tecnologia de Lançamentos (CALT) conseguiu um avanço decisivo no que era considerado um motor hipersónico impossível: o motor de detonação oblíqua (ODE).

O conceito, que até agora parecia de ficção científica, contempla um sistema de propulsão sem partes móveis através do acoplamento de ondas de choque com combustão

Este “motor impossível” foi idealizado por cientistas norte-americanos em 1958 e abandonado décadas depois devido à sua extrema complexidade técnica.

A experiência do CALT, que simulou condições de voo a Mach 8 e a uma altitude de 30 km, conseguiu acender e manter ondas de detonação estáveis durante mais de dois segundos — o que prova a viabilidade técnica do conceito para uso militar. Segundo os cientistas, o motor poderia atingir 16 vezes a velocidade do som.

“Os resultados demonstram a viabilidade técnica dos motores de detonação oblíqua de combustível líquido de injeção interna”, diz Yang Yang, primeiro autor do artigo que apresenta a pesquisa, publicado este mês na Journal of Aerospace Power.

Em 1978, cientistas da NASA teorizaram que este conceito poderia permitir um voo hipersónico sustentado de Mach 6 a 16, mas a ideia enfrentou ceticismo devido a obstáculos técnicos extremos.

Em dezembro do ano passado, uma equipa liderada pela Academia Chinesa de Ciências tinha conseguido uma detonação de 50 milissegundos num túnel de vento a Mach 9. A experiência foi na altura tratada pela comunidade científica como uma curiosidade de laboratório, dada a duração ultracurta da detonação.

Agora, o teste da CALT – 40 vezes mais longo e com ondas de detonação visíveis e estabilizadas – acaba com todas as dúvidas, nota o South China Morning Post.

No interior da câmara de combustão do motor experimental, um injetor central de combustível com quatro orifícios de 0,3 mm de diâmetro pulverizou combustível de aviação convencional (parafina RP-3) numa corrente de ar supersónica. Uma cunha de 20 graus com um par de saliências de 2 mm desencadeou a detonação.

Apesar do progresso, os autores do estudo reconhecem algumas limitações críticas. Por exemplo, o combustível penetrou apenas 39% do canal de fluxo com 90 mm de altura, deixando as regiões externas com pouco combustível, enquanto flutuações de pressão no escape perturbaram intermitentemente a estabilidade das ondas.

A equipa propôs algumas soluções, como prolongar o comprimento dos canais de mistura combustível-ar e redesenhar o injetor.

Embora ainda possa levar ainda alguns anos até que o ODE consiga levar-nos de Lisboa até Pequim em apenas um par de horas, a tecnologia pode encontrar uso inicial em algumas aplicações militares.

Uma avaliação realizada em fevereiro sobre o ODE pela Academia Chinesa de Mísseis Aerotransportados, que desenvolveu o poderoso míssil PL-15E que no início deste mês abateu vários jatos indianos no início deste mês, sugeriu que um teste terrestre superior a um segundo seria um limiar crítico para convencer os militares a aplicar a tecnologia em sistemas de armas.

De acordo com informações disponíveis publicamente, os militares chineses também estão interessados em utilizar a nova tecnologia de propulsão em projéteis inteligentes para artilharia de próxima geração, para que possam atingir alvos a uma distância muito maior do que projéteis não propulsionados.

ZAP //

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