China pode estar a extrair órgãos de reclusos condenados à morte e a identificar essas doações como voluntárias

Investigadores do Canadá descobriram que a China pode estar a usar uma equação para produzir informação falsa sobre doação de órgãos. Essa descoberta foi feita através de uma técnica forense que rastreia padrões suspeitos em conjuntos de dados estatísticos.

Esta nova pesquisa, publicada recentemente na BMC Medical Ethics, está a levantar preocupações. Segundo o estudo, a China continua a colher órgãos de reclusos executados, apesar das garantias do país em contrário, noticiou o Gizmodo. Algumas dessas pessoas foram presas devido às suas crenças políticas ou religiosas.

A equipa responsável ​​pela pesquisa, liderada pelo investigador Matthew Robertson, da Universidade Nacional Australiana, chegou a essa conclusão depois de analisar profundamente estatísticas dos recentes conjuntos de dados de hospitais chineses referentes a doações e transplantes de órgãos. Para tal, usaram uma técnica conhecida como estatística forense para sinalizar dados anómalos ou duvidosos.

“Esta é uma evidência altamente sugestiva de fabricação e manipulação de dados que só poderia ter sido feita por intervenção humana”, disse Matthew Robertson num comunicado. “Os padrões que observamos nos dados só podem ser explicados de maneira plausível pela falsificação de números oficiais de transplante de órgãos”.

Em 2010, o governo chinês declarou que mudaria a forma de adquirir órgãos e, desde então, está a promover um programa de doação voluntária (no final dos anos 2000, mais de 65% dos órgãos foram obtidos com a morte de reclusos).

As autoridades chinesas alegaram que, a partir de janeiro de 2015, a fonte exclusiva de órgãos doados viria do hospital, e não das prisões. Ou seja, de pacientes que morreram por causas naturais. Este novo estudo foi um esforço para corroborar esse compromisso.

Os investigadores analisaram os dados de doação voluntária de órgãos de 2010 a 2018, fornecidos pelo Sistema de Resposta a Transplantes de Órgãos da China e pela Sociedade da Cruz Vermelha da China, responsáveis por verificar e testemunhar as doações.

Os pesquisadores procuraram sinais de manipulação, como dados produzidos por simples fórmulas matemáticas, proporções arbitrárias, artefatos de dados estranhos e outros sinais de produção inadequada de dados.

Os dados do Sistema de Resposta a Transplantes de Órgãos da China correspondiam “quase perfeitamente a uma fórmula matemática”, escreveram os autores no estudo, algo que foi posteriormente confirmado como consistente com os resultados de uma simples equação quadrática. O mesmo se aplica aos dados da Cruz Vermelha.

No total, foram encontrados “dados contraditórios, pouco plausíveis ou anómalos” em cinco conjuntos de dados, o que provavelmente foi feito para “garantir a conformidade com as cotas centrais”, sugeriu o artigo.

“A nossa pesquisa mostra que os números de doações de órgãos relatados em Pequim não se comparam e há evidências altamente convincentes de que estes estão a ser falsificados”, referiu Matthew Robertson no comunicado.

“Quando examinamos de perto o número de órgãos coletados, estes quase coincidiam com essa equação artificial, ano após ano. É demasiado bom para ser verdade. Esses números não parecem ser dados reais de doações reais. São números gerados por uma equação. É difícil imaginar que esse modelo possa ter sido alcançado por mero acaso”, explicou.

Esses resultados foram verificados pelo especialista em estatística David Spiegelhalter, ex-presidente da Royal Statistical Society no Reino Unido. Na sua opinião, o “acordo próximo” dos números com uma equação “é notável”.

Outras falhas reveladas no estudo incluíram proporções demasiado altas de transplantes por doador, incompatibilidade nos conjuntos de dados idênticos e a classificação incorreta de doadores voluntários.

Os cientistas suspeitam que exista um sistema na China em que os órgãos sejam obtidos por meio de voluntários, mas também por outros canais, como a remoção forçada de órgãos de reclusos que se encontram no corredor da morte. Os dados falsificados sugerem que a China está a tentar disfarçar esse facto.

“As evidências disponíveis indicam que a China tem um complexo programa de transplante híbrido: doações voluntárias – incentivadas por grandes pagamentos em dinheiro – e doadores não-voluntários, que são referidos como voluntários”, escreveram.

ZAP //

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