Chimpanzés começaram a meter ervas no rabo e não quiseram outra coisa

No Orfanato de Vida Selvagem de Chimfunshi, na Zâmbia, os chimpanzés começaram a correr com ervas no rabo. Desde então, não quiseram outra coisa.

Os chimpanzés em cativeiro desenvolveram um novo gosto e começaram a pendurar ervas nas orelhas e no rabo.

Esta “tendência” invulgar foi reportada num estudo publicado na semana passada no Behaviour.

Os investigadores repararam que os chimpanzés (Pan troglodytes) introduziam uma folha de erva ou um pau na orelha ou no reto e depois deixam-na pendurada durante algum tempo.

O comportamento não parece ter qualquer objetivo físico ou médico. É só por ‘carolice’, mas espalha-se socialmente de chimpanzé para chimpanzé.

Esta é a segunda vez que um comportamento do género se apodera dos chimpanzés do santuário. Mas pôr erva no rabo é novidade. Em 2014, foi relatado pela primeira vez o comportamento da erva na orelha, num grupo. Agora, outro grupo do santuário introduziu o estilo ousado de usar a erva no reto.

Os dois grupos não têm qualquer contacto um com o outro, mas partilham os mesmos tratadores humanos.

Como escreve a Live Science, suspeita-se que a parte do comportamento relativa às orelhas tenha sido originada pelo facto de os chimpanzés copiarem os seus tratadores humanos, antes de se espalhar pelos grupos.

“Estes cuidadores referiram que, por vezes, colocavam uma folha de erva ou um palito de fósforo nas suas próprias orelhas para as limpar”, disse o líder do estudo, Edwin van Leeuwen, professor assistente de comportamento e cognição animal da Universidade de Utrecht (Países Baixos), em comunicado.

“Mas os cuidadores dos outros grupos disseram que não faziam isso”. Ou seja, os cuidadores não metiam nada no rabo. Segundo Van Leeuwen, os chimpanzés descobriram sozinhos “que também podiam enfiar as folhas noutro sítio”.

Depois, os animais começaram a copiar os comportamentos uns dos outros.

Sem qualquer propósito

Os investigadores têm documentado modas temporárias que se espalham pelas populações sem um benefício óbvio.

Algumas orcas (Orcinus orca) do Noroeste do Pacífico, por exemplo, são famosas por pelo hábito bizarro de nadar com salmões mortos na cabeça.

Nos chimpanzés, um macho chamado Juma foi identificado como o possível responsável da nova e ousada variação de erva no rabo, que, segundo o novo estudo, se espalhou pela maioria dos seus companheiros de grupo no espaço de uma semana.

A culpa é do tempo livre…

Os investigadores suspeitam que o cativeiro terá desempenhado um papel crucial nestas tendências.

“Em cativeiro, eles têm mais tempo livre do que na natureza”. disse Van Leeuwen. “Não precisam de estar tão alerta nem de passar tanto tempo à procura de comida”.

Pelo contrário, os chimpanzés selvagens, que não foram observados a adotar estes comportamentos aparentemente frívolos, têm mais do que fazer. Passam os dias à procura de comida e têm de enfrentar muitos mais desafios do que os chimpanzés em cativeiro, que é só “vida boa”.

Se os chimpanzés selvagens fossem alguém do universo humorístico português, provavelmente, seriam o famoso “Gajo de Alfama”, dos Gato Fedorento, que “nunca meteu nada no c*…”, porque tinha de estar na frente de combate.

Miguel Esteves, ZAP //

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