Cessar-fogo “mais perto que nunca”? Sem paz, Gaza não terá vacinas

HAITHAM IMAD/EPA

Palestinianos deslocados em Khan Younis, sul da Faixa de Gaza.

Biden confessou que “é possível que tenhamos algo” após mais 48 horas de negociações por um cessar-fogo em Gaza, onde surgiu o primeiro caso confirmado de poliomielite. Sem cessar-fogo, não há vacinas, avisa Guterres.

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou esta sexta-feira que um acordo entre Israel e Hamas para um cessar-fogo na Faixa de Gaza está “mais perto do que nunca”, após a conclusão de nova ronda negocial.

“É possível que tenhamos algo (…) mas ainda não chegamos lá”, afirmou Biden na Sala Oval da Casa Branca, em Washington, questionado pela imprensa sobre os resultados das negociações concluídas esta sexta-feira em Doha sobre a Faixa de Gaza, sob mediação internacional.

Segundo um comunicado conjunto dos mediadores, as 48 horas de discussões sobre um cessar-fogo e a libertação de reféns em Gaza foram “construtivas” e serão retomadas no Cairo na próxima semana.

Washington anunciou ter apresentado uma nova proposta de compromisso, apoiada pelo Egito e pelo Qatar, com o objetivo de “preencher as restantes lacunas” e que diz respeito à implementação de um acordo entre Israel e o Hamas, de acordo com a Casa Branca.

Esta proposta americana baseia-se num guião apresentado por Biden no final de maio, que prevê várias fases para a cessação das hostilidades e a libertação dos reféns raptados.

O movimento islamista palestiniano apelou, no domingo passado, para a “aplicação” do plano de três fases proposto pelos norte-americanos para uma trégua em Gaza, “em vez de realizar mais negociações ou apresentar novas propostas”.

As negociações são mediadas por Egito, Qatar e Estados Unidos, procurando obter a libertação dos reféns israelitas sequestrados em 7 de outubro pelo Hamas e que ainda estejam vivos, além da entrada de ajuda humanitária para a população civil em Gaza; enquanto o Hamas exige a retirada completa das tropas de Israel e um cessar-fogo definitivo.

Contudo, o Hamas já mostrou a sua insatisfação com o que foi discutido nas negociações de Doha para um cessar-fogo em Gaza, garantindo que o que puderam depreender das conversações foi que não existe ainda “um compromisso com o que foi acordado a 2 de julho”, referindo-se à proposta original apresentada pelos Estados Unidos.

Netanyahu pressiona mediadores

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, instou os mediadores norte-americanos, qataris e egípcios a “pressionarem” o movimento islamita palestiniano Hamas para alcançarem um acordo de cessar-fogo em Gaza, após mais de dez meses de guerra.

“Israel espera que a pressão [dos mediadores] leve o Hamas a aceitar” o plano proposto no final de maio pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, declarou Netanyahu em comunicado, no final de dois dias de negociações em Doha.

A comunidade internacional está a pressionar as partes para que cheguem a um acordo de cessar-fogo, com o objetivo também de diminuir as tensões no Médio Oriente, agravadas pela morte do líder do Hamas Ismail Haniyeh, num atentado em Teerão — que o Irão e o movimento palestiniano atribuíram a Israel –, e pelo ataque israelita em Beirute que matou o “número dois” da milícia xiita Hezbollah, Fuad Shukr.

As negociações em Doha foram retomadas na quinta-feira, dia em que o número de mortes na Faixa de Gaza em resultado da ofensiva israelita ultrapassou os 40 mil, na maioria civis, de acordo com as autoridades locais controladas pelo Hamas.

Guterres: sem cessar-fogo, não há vacinas

O secretário-geral das Nações Unidas alertou esta sexta-feira que é impossível realizar uma campanha de vacinação contra a poliomielite na Faixa de Gaza sem um cessar-fogo, instando as partes envolvidas na guerra a aceitaram pausas humanitárias.

O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo movimento islamita palestiniano Hamas, anunciou esta sexta-feira o primeiro caso confirmado de poliomielite no enclave, de um “bebé de dez meses que não foi vacinado” em Deir al-Balah.

O poliovírus foi detetado em julho em amostras de águas residuais recolhidas no final de junho em Khan Yunis e Deir al-Balah, segundo a OMS e a UNICEF.

Mohammed Hamouda, um fisioterapeuta e pai de três filhos, têm muitos familiares e amigos ainda no norte da Faixa de Gaza, que está a sofrer mais com as incursões e bombardeamentos israelitas. “Eles comem erva e bebem água poluída. As pessoas massacraram um burro para comer a sua carne”, revela à CNN.

Palestina quer governo unificado em Gaza e Cisjordânia

O primeiro-ministro palestiniano, Muhamad Mustafa, defendeu esta sexta-feira que as instituições de Gaza, controladas pelo Hamas desde 2007, e da Cisjordânia, governadas pela Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), fiquem sujeitas “a uma única autoridade e governo” quando alcançada a paz.

Mustafa agradeceu à diplomacia dos dois países europeus pelos seus esforços “para acabar com a guerra de extermínio” em Gaza e com “a escalada do exército de ocupação (israelita) e dos colonos e os seus ataques na Cisjordânia”.

Reiterou também a necessidade do apoio ao Governo da ANP para garantir a “reconstrução e unidade dos territórios”, um Estado independente palestiniano e “o fim da ocupação” israelita, a par do seu reconhecimento internacional e da sua inclusão como membro das Nações Unidas.

Segundo nota divulgada pelo Governo palestiniano, Séjourné e Lammy enfatizaram “a necessidade de alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza e a introdução de ajuda” no território palestiniano, bem como de diminuir a tensão na região face a uma possível retaliação iraniana contra Israel pela morte em Teerão do líder do Hamas, Ismail Haniyeh.

ZAP // Lusa

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