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O cérebro humano está desenhado para ter alucinações

As alucinações, normalmente associadas a distúrbios psicóticos, resultam na verdade de um processo natural do cérebro, quando este tenta “completar” a realidade quando sente que não lhe chegam informações suficientes.

Um grupo de cientistas das universidades de Cambridge (Inglaterra) e Cardiff (País de Gales) chegou a esta conclusão depois de uma série de experiências, cujos resultados foram publicados esta segunda-feira na Proceedings of the National Academy of Sciences.

De acordo com os investigadores britânicos, o cérebro humano tem uma poderosa capacidade de “completar” a visão de um acontecimento quando os dados são insuficientes ou incompletos.

Assim, o efeito colateral deste “prognóstico cerebral” é a capacidade de ver coisas que não existem na realidade – as alucinações, que ocorrem quando há uma intensificação dos processos normais de avaliação de uma situação no cérebro, baseando-se na informação existente combinada com prognósticos.

Este comportamento, segundo os cientistas, não é inerente apenas às pessoas com doenças mentais, mas acontece, por exemplo, quando “reconhecemos” o nosso gato no escuro mesmo quando este não passa de uma mancha.

Durante as experiências, os cientistas compararam as reações de pessoas saudáveis e das que tinham doenças mentais a determinadas imagens.

Os participantes tinham que detetar a silhueta de uma pessoa em imagens ininteligíveis a preto e branco – ou seja, para identificar a silhueta era preciso usar a imaginação.

Em seguida, eram mostradas imagens a cores a partir das quais tinham sido feitas as imagens anteriores a preto e branco.

As pessoas com psicoses ou com predisposição para doenças mentais acabavam por cumprir a tarefa mais facilmente olhando para as imagens, confirmando a teoria dos cientistas de que as alucinações ocorrem devido à tendência hipertrofiada de projetar na realidade ideias previamente existentes.

Paul Fletcher, do departamento de psiquiatria da Universidade de Cambridge, explica que “ter um cérebro preditivo torna-nos eficientes e propensos a criar uma imagem coerente de um mundo ambíguo e complexo, mas também significa que não estamos muito longe de percepcionar coisas que não existem na realidade – a definição de alucinação”.

“Estas descobertas são importantes porque nos mostram que a emergência de sintomas de doenças mentais podem ser enquadrados como uma alteração do equilíbrio das funções cerebrais normais, e também sugerem que estes sintomas e experiências não refletem um cérebro ‘estragado’, mas antes um que está em busca – de uma forma muito natural – de sentido para a informação que lhe parece ambígua”, completa Naresh Subramaniam, investigadora da mesma instituição.

ZAP / SN

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