Quando coisas más acontecem, não nos queremos lembrar delas. Tentamos bloquear, resistir, ignorar – mas talvez devêssemos fazer o oposto.
É sabido que o cérebro humano é capaz de esquecer intencionalmente informações – uma habilidade especialmente útil, por exemplo, ao descartar memórias traumáticas para responder de maneira mais adaptativa a novas experiências -, mas, depois de décadas de estudo, ainda não é totalmente claro como este mecanismo cognitivo funciona.
Tradicionalmente, essa capacidade estava ligada a processos passivos, como prestar menos atenção à memória “indesejada”, concentrar-se noutras informações ou tentar não reproduzir essa memória.
No entanto, um novo trabalho publicado a 11 de março na revista Journal of Neuroscience sugere que esquecer algo intencionalmente requer mais esforço mental do que o necessário para memorizar e faz com que o nosso cérebro direcione mais atenção para a memória que desejamos suprimir.
A memória não é um fenómeno estático, mas consiste em construções dinâmicas do cérebro que são constantemente atualizadas, modificadas e reorganizadas de acordo com a experiência. O cérebro trabalha sempre para lembrar e descartar informações.
Estudos anteriores sobre o esquecimento voluntário focaram principalmente a atividade neural dentro das estruturas de controlo do cérebro, como o córtex pré-frontal, bem como nas áreas responsáveis pela memória de longo prazo.
Em vez disso, os autores da nova investigação concentraram-se no córtex temporal ventral – uma zona sensorial e percetiva – medindo a atividade correspondente às representações na memória de estímulos visuais complexos.
Para isso, mostraram uma série de imagens de paisagens e rostos humanos a um grupo de voluntários adultos saudáveis, pedindo-lhes para lembrar ou esquecer certas imagens, e analisaram, ao mesmo tempo, a sua atividade neuronal através de uma ressonância magnética funcional.
Como resultado, os investigadores determinaram que, ao remover com êxito uma memória intencionalmente, registou-se um nível moderado de atividade em áreas sensoriais e de perceção do cérebro onde o esforço para lembrar as informações necessárias requeria uma atividade menos intensa.
“Um nível moderado de atividade do cérebro é fundamental para este mecanismo do esquecimento”, porque se for “muito forte fortalecerá a memória”, enquanto se foi “muito fraca não conseguirá modificá-la”, disse Tracy Wang, investigadora da Universidade do Texas.
Os especialistas também observaram que os participantes tendiam a esquecer paisagens mais facilmente do que os rostos, já que os últimos podem ter mais carga emocional. Eles também expressaram a esperança de que novos estudos no futuro possam ajudar os pacientes a livrar-se das memórias emocionais e recorrentes que interferem com a sua saúde e bem-estar.
ZAP // Science Alert
Gostava de saber se já é possível à ciência neurológica apagar memórias traumáticas de infância que estão alojadas no cérebro humano. Se for afirmativo de que forma é lugar.
Existe um estudo em que se fala sobre memórias traumáticas e um mecanismo aparente envolvido em camundongos, receptores GABA, mas se é viável e utilizável em humanos eu acredito que ainda não, é muito mais complexo do que imaginamos.
Existe um estudo. Mas não existem conclusões.
Eu particularmente acredito que possa. Tento compreender há anos porque não consigo lembrar de determinado período, sendo que se trata de 6 anos. Talvez possa encontrar nisso a explicação.