CEO do SNS quer a Saúde a mandar mais do que as Finanças. Lacerda Sales despede-se nas redes sociais

10

Tiago Petinga / Lusa

Fernando Araújo

Fernando Araújo, ex-presidente do Conselho de Administração do São João no Porto, vai gerir agora todo o SNS, depois de ter criticado Marta Temido.

O Governo escolheu Fernando Araújo, ex-presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de São João no Porto para diretor executivo do SNS, apesar de António Costa ter garantido uma linha de continuidade na política de Marta Temido.

O médico e gestor, crítico da política seguida pela ex-ministra da Saúde, censurou a “excessiva politização dos cargos públicos” e o seu impacto no setor, em entrevista ao Diário de Notícias.

Defendeu também que o facto das Finanças terem mais poder que a Saúde “limita a autonomia das decisões e faz com que não haja responsabilização dos gestores num processo”.

Esta segunda-feira, o primeiro-ministro deu uma pista de quem podia ser o escolhido para liderar o SNS, ao elogiar o funcionamento dos serviços de urgência no Porto.

“Não tenham dúvidas nenhumas que Lisboa tem muito a aprender com o Porto, nomeadamente em relação ao funcionamento das urgências, tem muito a aprender com o Porto”, garantiu António Costa, em entrevista à TVI 24.

Segundo a TVI 24, Fernando Araújo ainda não respondeu oficialmente ao convite, estando a aguardar a promulgação do novo estatuto do SNS, o que só acontecerá depois de Marcelo Rebelo de Sousa regressar de Angola.

O responsável foi diretor do serviço de Imuno-hemoterapia e do Centro de Medicina Laboratorial do Centro Hospitalar Universitário São João, ocupou cargos de direção na Ordem dos Médicos e foi Secretário de Estado Adjunto e da Saúde entre 2015 e 2018, quando Adalberto Campos Fernandes era ministro.

O portuense de 56 anos é um médico que assumiu ter gosto pela gestão, tendo feito uma pós-graduação na área na Universidade Católica do Porto.

Nos seus artigos de opinião para o Jornal de Notícias, considerava que a Saúde estava suborçamentada e apelava a mais recursos humanos nas unidades de saúde, apesar de reconhecer que houve um reforço nesse campo por parte do ministério da Saúde, que passou das mãos de Marta Temido para as de Manuel Pizarro.

Em julho, escreveu sobre a valorização das horas extraordinárias dos médicos, salientando que “o problema dos decisores políticos é por vezes cometerem a imprudência de, em sistemas complexos, optarem por soluções populistas“.

“Colocar mais dinheiro, sem uma estratégia clara e um planeamento adequado, não resolve os constrangimentos, como ainda pode criar novos problemas”, lê-se no JN.

Lacerda Sales despede-se no Facebook

António Lacerda Sales cessou esta terça-feira funções como secretário de Estado Adjunto e da Saúde, um cargo que diz ter exercido num contexto “de condições únicas”, e deixou uma palavra de reconhecimento à ex-ministra Marta Temido.

“É com sentido de dever cumprido que neste dia cesso as funções de secretário de Estado Adjunto e da Saúde. Nesta e noutras missões sempre me orientou o propósito de servir o meu país. Considero um privilégio ter tido a oportunidade de o fazer também nestas funções de elevada responsabilidade e exigência, onde pude dar o melhor de mim ao serviço duma dimensão da existência humana à qual tenho dedicado toda a minha vida: A saúde”, escreve António Lacerda Sales no Facebook.

Lacerda Sales era o secretário de Estado Adjunto e da Saúde da ex-ministra da Saúde, Marta Temido, que deixou o cargo na semana passada.

Na mensagem, Lacerda Sales considera que o contexto em que exerceu este cargo “foi de condições únicas”, tendo a pandemia de covid-19 colocado o país “perante desafios inéditos”, que levou ao limite das forças.

“Foi também ocasião para conhecer muito do melhor que temos, como humanos, como cidadãos, como povo: a resiliência coletiva, a solidariedade improvisada, a dedicação admirável dos profissionais de saúde, a quem manifesto um profundo agradecimento e admiração”, refere ao deixar “uma palavra de gratidão e de reconhecimento” a Marta Temido pela “extraordinária capacidade de trabalho” e pelo que, com ela aprendeu durante este “intenso período”.

António Lacerda Sales agradeceu também ao primeiro-ministro a confiança depositada e desejou à nova equipa do Ministério da Saúde “os maiores sucessos”.

“Termino este serviço específico, mas continuarei com a mesma responsabilidade cívica a fazer o que estiver ao meu alcance para que em Portugal possamos ter cada vez melhores cuidados de saúde, condição para uma sociedade mais humana”.

Decisão será tomada na sexta-feira

O Presidente da República remeteu esta terça-feira para sexta-feira uma decisão sobre o diploma do Governo que cria a direção executiva do SNS e rejeitou comentar nomes para liderar este órgão, apelando a que se respeite “a ordem” do processo.

“Eu parto agora, dentro de duas horas e meia, para Angola, regresso na sexta-feira e tenciono logo na sexta-feira — espero receber entretanto os comentários jurídicos sobre três, quatro ou cinco pontos que foram levantados na Presidência da República — e espero ter a decisão sexta-feira ao fim da tarde”, avançou.

O chefe de Estado falava na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, onde assistiu à apresentação do livro “Orgulhosamente Sós, A Diplomacia da Guerra 1962-1974”, do atual embaixador português em Marrocos, Bernardo Futscher Pereira.

Marcelo afirmou que “entre sexta e sábado” deverão tomar posse os novos secretários de Estado da Saúde, do ministério agora tulelado por Manuel Pizarro, “e só depois disso é que se passa realmente à indicação do diretor executivo [do SNS]”.

“Embora já conste um nome, vamos esperar agora: primeiro, a lei, os secretários de Estado e depois o diretor executivo. Vamos seguir a ordem que deve ser seguida”, acrescentou o Presidente da República.

Marcelo insistiu na necessidade de uma “organização adequada a melhorar o SNS”, que separe “a decisão política da gestão do SNS”, de forma a existir uma “estabilidade e autonomia” que o fortaleça.

Marcelo considerou que “os portugueses devem continuar a ser exigentes” mas obviamente “sempre com a expectativa de que se possa melhorar, sobretudo depois de um período em que o SNS teve um embate tão forte como foi a pandemia, respondeu muito bem mas pelo meio ficaram mazelas”.

O Governo aprovou em Conselho de Ministros no passado dia 8 de setembro o decreto-lei que estabelece a criação da direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS), prevista no estatuto do SNS.

O Estatuto do SNS foi promulgado pelo Presidente da República em 1 de agosto, que considerou na altura que “seria incompreensível” retardá-lo, e instou o Governo a acelerar a sua regulamentação e clarificar pontos ambíguos.

No domingo, o Presidente da República considerou que o diploma que recebeu sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) “vai no bom caminho” ao criar uma instituição responsável pela gestão que está separada das decisões políticas.

Alice Carqueja // Lusa

10 Comments

    • É o mesmo que dizer que nós (no fundo as finanças deste país através do impostos) temos de estar dispostos a suportar um SNS ainda mais caro. Se ele dissesse que ia fazer mais com menos ou até com o mesmo… Agora ao dizer esta frase, significa que todos iremos pagar mais.

  1. “CEO do SNS quer a Saúde a mandar mais do que as Finanças”………mas não pode ser………as finanças são as que mais manda neste país e assim tem de ser…..é de lá que sai o dinheiro para o SNS.

  2. Nunca em país algum os outros ministérios podem gastar sem que as Finanças autorizem.
    Se asim for, quem se responsabiliza pelo cumprimento do défice, do dívida, do financiamento do Estado, etc.
    Quer dizer; o ministro da saúde quer ter em Portugal um SNS como o da Alemanha e toca a gastar a torto e a direito sem cuidar de saber se há dinheiro ou não.
    E porque não o da Educação, das Infraestruturas, etc exigirem o mesmo.
    Queremos uma educação como os nórdicos e vai daí, toma lá.
    Depois quem vier a seguir que chame a troika!
    Os portugueses têm de se mentalizar que para terem serviços públicos como os países ricos têm de produzir riqueza como esses países.
    É como em nossa casa: quem ganha pouco não pode gastar muito. Caso contrário, logo bate com a cabeça na parede.
    E na saúde, dizem as estísticas, temos no SNS mais médicos per capita do que a maior parte dos países com quem nos comparamos. É preciso é que trabalhem a ” full time” no SNS e não andem a saltitar de manhã no público, à tarde no privado, ou a marcar o ponto no público e a trabalhar ao mesmo tempo no privado, como já foram apanhados alguns a quem foi instaurado processo-crime mas cujo resultado foi zero.
    É por isso que as organizações sindicais e a OM são contra o controlo de presença através da impressão digital ou biométrica. Preferem ” picar o ponto” ( sabe-se lá quem o pica!?).
    Viu-se o que é ” picar o ponto ” na AR.
    Se tem de haver revisão salarial que seja estudada essa questão mas antes o SNS ( e outros serviços públicos) precisa de uma profunda reorganização, porque o que se faz quando há contestação é lançar mais dinheiro em cima e os problemas continuam os mesmos.
    Caso contrário, o SNS vai ser o maior sorvedouro de dinheiro público e a qualidade continua a mesma.

  3. Como um só ministro não resolvia a derrocada do SNS, então o governo tenta resolver a questão com dois ministros: o ministro principal (o político) e o ministro secundário (o técnico).

  4. Que tal:
    – Formar mais médicos (só vai surtir efeito daqui a mais de 10 anos)
    – Reconhecimento de mais profissionais oriundos de outros países (Ucrânia, Brasil, Cuba,…)
    – Aumentar o horário de trabalho na Função Pública para as 40 horas
    – Regime de exclusividade total. Se o médico está no público não pode trabalhar no privado
    – Cheque-saúde com valores bem calculados em função das intervenções
    – Unidose nos medicamentos
    – Partilha de recursos entre “centros hospitalares próximos”
    – Gestão de recursos por zona geográfica e nunca por centro hospitalar. Articulação com INEM…
    – Maior articulação de centros hospitalares próximos
    – Replicar a gestão autónoma de determinadas especialidades (ex: Manuel Antunes em Coimbra)
    – Acelerar a informatização com transferência (leia-se importação) automática de dados entre hospitais, centros de saúde, laboratórios de análises… Atualmente as análises chegam em pdf e ainda são inseridas à mão?!!!!!
    – Prémios de desempenho por serviço e hospital
    – Maior flexibilidade na gestão de cada unidade de saúde (inclusivamente na contratação de recursos humanos)
    – Simplificação do CCP no domínio da saúde
    – Impossibilidade de contratar empresas privadas prestadoras de serviços médicos (no limite apenas seria possível contratar médicos individualmente e nunca empresas)
    – Pacto de regime na área da saúde entre PS e PSD
    – Demissão do Costa

    Com estas medidas os problemas do SNS ficava em grande parte resolvido.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.